O semanário Expresso concedeu nada menos do que 9 páginas da sua revista a uma longa entrevista a um conhecido empresário, orgulhoso do seu muito reduzido nível de escolarização (6 anos), entrevista essa da qual extraio apenas uma única frase, que tem tanto de inquietante como de perigosa:
A referida afirmação não configura apenas uma exaltação do risco em detrimento das competências académicas: é também uma caricatura perigosa que desvaloriza uma formação superior, reduzindo-a a um sinónimo de aversão ao risco e até de medo.
Contudo a ideia falaciosa de que o estudo e o conhecimento são entraves à ousadia e ao risco é intelectualmente superficial e contribui para reforçar o mito de que o sucesso empresarial depende muito mais dessa ousadia do que da preparação fundamentada e informada.
Importa também questionar até que ponto a promoção deste tipo de discurso, logo pela imprensa mainstream nacional, (o semanário mais vendido em Portugal) não acaba por desvalorizar e até apoucar as formações académicas, legitimando uma visão estreita e anti-intelectual do empreendedorismo?
É verdade que em bom rigor a academia Portuguesa não está totalmente isenta de "culpas", desde logo porque já há muito que podia ter tomado a decisão de valorizar o trabalho de catedráticos, como o daquele, da universidade do Porto, mencionado no post acessível no inicio do email infra do passado dia 19 de Abril e também há muito podia ter copiado o que fazem no famoso ETH Zurich, (onde recordo os professores auxiliares recebem salários entre 10.000 e 15.000 euros/mês) que concede licenças sabáticas para que os seus cientistas se possam dedicar à criação de empresas, como mencionei no mesmo email.
PS - É muito sintomático que o referido empresário tenha achado importante na dita entrevista descriminar os modelos dos seus vários carros de luxo, mas não tenha achado igualmente importante, revelar quantos dos seus funcionários recebem o ordenado mínimo, de forma radicalmente diferente de um outro empresário, doutorado pela universidade de Aveiro, que paga aos seus trabalhadores muito mais do que o salário mínimo nacional (alguns deles até já se tornaram milionários) e que ainda por cima faz o favor de dar um bónus de 20% aqueles que optem por ir viver para o Interior de Portugal https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/06/a-empresa-que-paga-aumentos-de-20-aos.html
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De: F. Pacheco Torgal
Enviado: 19 de abril de 2025 19:21
Para: eng-todos; eng-investigadores
Assunto: A baixa apetência pelo risco das estudantes de engenharia da UMinho: Um caso de estudo.
https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/01/catedratico-nada-modesto-classifica-de.html
Ainda na sequência de um post de há um ano atrás, vide link supra, sobre as declarações nada modestas de um catedrático de engenharia da Universidade do Porto, relativamente à capacidade de geração de empresas por parte do seu grupo de investigação, aproveito para divulgar o facto de hoje mesmo a revista Forbes, ter publicado um artigo onde analisa a tendência crescente dos cientistas se tornarem empreendedores através do lançamento de empresas de base tecnológica. https://www.forbes.com/sites/trevorclawson/2025/04/19/spin-out-strategy-turning-scientists-into-entrepreneurs/
Neste contexto recordo que num post anterior, do passado mês de Dezembro, no qual lamentei a inépcia (leia-se falta de coragem) da Presidente do ERC, Maria Leptin, mencionei o facto do famoso relatório Draghi ter criticado a inexistência de incentivos, a nível europeu, para que os investigadores se tornem empreendedores. Nesse post mencionei o caso do conhecido ETH Zurich, que concede licenças sabáticas aos seus cientistas para que se possam dedicar unicamente à criação de empresas https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/12/where-is-courage-ercs-maria-leptin.html
Neste contexto particular, é pertinente referir que há poucos anos atrás, um capítulo de um livro indexado na Scopus, divulgou resultados de um estudo de investigadoras da universidade do Minho, que analisaram as respostas de duas centenas de estudantes de cursos de engenharia da mesma universidade (53% do campus de Gualtar e 47% do campus de Azurém), quanto às suas intenções de se poderem no fututo tornar empreendedores. Os resultados mostraram que as jovens mulheres dessa área mostraram-se menos motivadas para serem empreendedoras. https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/90299
Curiosamente, as autoras do referido capítulo, não citaram um estudo que tinha sido publicado dois anos antes, na revista Sec. Organizational Psychology, com resultados opostos. O mesmo incidiu sobre 644 estudantes Portugueses, de 21 universidades e de 7 institutos politécnicos, tendo concluido que as mulheres dessa amostra, apresentavam uma intenção empreendedora superior à dos homens https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2020.615910/full
PS - Ainda sobre o supracitado capítulo de livro, não posso deixar de registar positivamente, o facto das suas autoras terem feito questão de não deixar de referenciar obras altamente citadas, o que poderá contribuir (mostra a ciência) para o aumento do impacto dessa publicação
Autor
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Título
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Citações Scopus
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Schumpeter
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Capitalism, Socialism
and Democracy
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20.249
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Reynolds et al.
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GEM Executive Report
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1.886
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Shapero
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Entrepreneurial
Potential
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1.885
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Krueger & Carsrud
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TPB applied to
entrepreneurship
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1.199
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Liñán & Fayolle
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Systematic review on
entrepreneurial intentions
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989
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Thompson
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EI measurement scale
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808
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Mwasalwiba
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Entrepreneurship
education
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503
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