domingo, 16 de novembro de 2025

Desta vez não me resta outra alternativa senão defender a catedrática Fortunato

Depois de, por várias vezes, ter criticado a catedrática Elvira Fortunato durante o seu mandato como Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devo agora, por uma questão de justiça e coerência, defendê-la do ataque de que foi alvo na capa do semanário Nascer do Sol, onde foi acusada de receber dezenas de milhares de euros de forma ilegal. 

Divulgo, assim, uma parte do texto que ela enviou a título de direito de resposta ao mesmo semanário:"Existe um protocolo formal...que autoriza expressamente a atribuição de subsídios ou compensações a docentes em regime de dedicação exclusiva, quando provenientes de fundos de projectos de investigação...As verbas recebidas...provêm de financiamentos internacionais competitivos...Essa é uma prática comum em diversas instituições de ensino superior nacionais e europeias, consolidada pelo Regulamento referente ás remunerações adicionais de docentes e investigadores da universidade Nova de Lisboa (DR 879/2019)". 

Recordo que, há vários anos atrás, sugeri que os coordenadores de projetos internacionais recebessem 5% (exactamente a mesma percentagem que é recebida a título de bónus pelos trabalhadores do fisco na cobrança coerciva de impostos) do valor desses projetos, valor esse a deduzir da percentagem de 25% dos encargos gerais que as universidades extraem desses projectos. Este mecanismo não seria apenas um incentivo para aumentar significativamente as candidaturas internacionais — área em que Portugal apresenta um desempenho sofrível, vide imagem que compara o nosso país à Suécia, Suíça, Finlândia e Holanda https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/02/sera-que-os-investigadores-portugueses.html —, mas também uma medida vital para reter os investigadores nacionais mais talentosos, tentando assim que conseguissem resistir à tentação de irem trabalhar para universidades que pagam salários muito mais elevados, pois em Portugal um catedrático no 1º escalão recebe menos do que uma bolsa de pós-doutorado em certas universidades do Norte da Europa, pois ignorar esta realidade e persistir em regras anacrónicas e miserabilistas é perpetuar um círculo de mediocridade e de empobrecimento do nosso país.

Recordo também que, há quase um ano atrás, mais precisamente no dia 30 de Dezembro, recebi um email da FCT notificando-me que um projecto do qual fui investigador responsável, não tinha executado 524,56 euros, exigindo a devolução urgentíssima dessa pequena verba, sob pena da universidade do Minho ter de pagar a totalidade do valor do projecto. Compare-se esse comportamento contraproducente, que desincentiva os investigadores de tentarem poupar na gestão dos seus projectos, com aquilo que sucede na França, onde um cientista galardoado com o prémio Nobel, que visitou a universidade do Minho, revelou que naquele país, os investigadores tem total autonomia para poderem utilizar verbas de projectos que não foram executadas em despesas científicas que achem pertinentes. E compare-se isso com a autonomia que atinge níveis verdadeiramente audaciosos no caso da Agência Alemã que financia a inovação naquele país (Sprind), onde a vontade de cortar na burocracia vai ao ponto de dispensar as equipas que atingiram os objectos a que se propuseram de explicarem como gastaram o financiamento recebido "Successful teams are also not asked to offer any proof of how they spend their money. “The bureaucracy needs to be as minimal as possible,” said Costard" https://sciencebusiness.net/news/r-d-funding/inside-germanys-sprind-innovation-agency-anti-horizon-europe

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Univ. de Lisboa - Uma notícia sobre um 1º lugar que afinal é apenas o 8º lugar nacional


A U.Lisboa divulga no seu site que é hoje "a universidade mais empreendedora de Portugal", (vide notícia acessível no link supra) baseando essa afirmação no facto de aquela ter gerado mais de 1000 startups. Mas se levarmos em linha de conta que a maioria das startups não passam de iniciativas falhadas que desaparecem ao fim de poucos anos, pois não conseguem gerar receitas suficientes nem muito menos captar qualquer investimento, aquilo que realmente pode aferir da capacidade empreendedora de uma instituição é antes o valor médio do montante de investimento efectivamente captado pelas suas startups, que dessa forma demonstram uma capacidade bastante maior de transformar conhecimento em valor económico, revelando processos de incubação, mentoria e transferência de tecnologia mais robustos e eficientes.

Assim apresenta-se abaixo o rácio do maior investimento médio captado por startups, de 10 instituições de ensino superior, onde a ULisboa só consegue aparecer em 8º lugar, com um desempenho apenas ligeiramente melhor do que o Politécnico de Leiria. Na lista merece destaque pela positiva o Politécnico do Porto, cujo desempenho envergonha várias universidades, incluindo a própria universidade de Lisboa. Os rácios foram calculados utilizando os valores que recentemente foram apresentados aqui https://startupportugal.com/wp-content/uploads/2025/11/Portugals-Entrepreneurial-Universities-Ranking25.pdf

1º - U.Nova..............22 milhões de euros de investimento médio captado por cada startup
2º - U.Coimbra.........20
3º - Pol. Porto..........19
4º - ISCTE...............17
5º - U.Minho............14
6º - U.Porto..............12
7º - U.Católica.........12
8º - U.Lisboa...........11
9º - Pol. Leiria...........8
10º - U.Aveiro...........8

Talvez seja chegada a hora das universidades e politécnicos nacionais mais competitivos, copiarem o que se faz numa das melhores universidade europeias, que integra o pódio juntamente com a Univ.de Oxford e a Univ. de Cambridge, no ranking de produçáo das startups mais valiosas (vide relatório Deep Tech 2025), universidade essa que concede licenças sabáticas de 1 ano, aos seus professores e investigadores, que se queiram dedicar à criação de startups https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/04/sera-que-os-estudantes-de-engenharia-da.html  

PS - O contexto supra revela-se particularmente oportuno para evocar o artigo de título "Investimento em Ciência e Prosperidade", da Directora do novel e ambicioso centro de investigação GIMM, que conta com mais de 700 colaboradores, onde aquela afirmou que "a ciência é o melhor investimento que uma sociedade pode fazer" https://expresso.pt/opiniao/2025-11-06-investimento-em-ciencia-e-prosperidade-464085e6

Aditamento em 14 de Novembro - A Vice-Reitora da Universidade do Porto para o empreendedorismo, revelou ao semanário Expresso que naquela universidade há alguns professores que já criaram mais de uma dezena de empresas. E embora não tenha revelado o nome deles, acho muito provável que um desses professores seja o catedrático nada modesto que em Janeiro de 2024 mencionei aqui https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/01/catedratico-nada-modesto-classifica-de.html

terça-feira, 11 de novembro de 2025

The Decline of the Great American Research University

 

https://www.chronicle.com/article/the-decline-of-the-great-american-research-university

In an article published yesterday, Richard Holmes argues that American universities are in the midst of a long-term decline. While these institutions continue to celebrate their scientific achievements and global prestige, Holmes contends that they have failed to confront decades of eroding research quality. He condemns their dependence on standardized rankings and warns that this culture of self-congratulation masks a deeper crisis: the steady loss of Western academic dominance. Holmes further highlights the rapid ascent of Chinese universities, which are increasingly outperforming their Western counterparts in both research output and impact.

I strongly disagree, however, with his dismissal of the Trump-era assaults on academia as a marginal factor. Federal funding cuts, the politicization of curricula, and sustained attacks on academic freedom severely weakened the research ecosystem. Immigration restrictions and travel bans choked the influx of international talent—students and scholars who form the lifeblood of graduate education and innovation. The relentless vilification of “liberal” universities eroded public trust and state investment. Far from being incidental, these political and cultural hostilities amplified structural weaknesses, accelerating the decline in U.S. universities’ global competitiveness.

China’s scientific output has expanded at an unprecedented pace, yet a significant portion of its work remains low-impact and is cited mostly within the country. At the same time, the rise in retractions, “paper mills,” and ethics lapses has exposed serious, systemic problems with research integrity, raising questions about the credibility of some outputs. Compounding these challenges, career and funding systems that reward short-term metrics and publication counts incentivize safe, incremental projects over bold, transformative research, slowing the pace at which Chinese science can achieve groundbreaking, globally recognized innovation.

I agree that China has emerged as a formidable and increasingly assertive competitor in the global research landscape. However, this prominence owes relatively little to its intrinsic scientific competitiveness—as evidenced by its comparatively modest performance in Nobel Prizes, a crucial context that Holmes overlooks. He fails to consider the ratio of science Nobel Awards per million inhabitants between the U.S. and China—a figure in which China ranks below countries such as Argentina, Egypt, and Tunisia. Rather than reflecting the depth of domestic innovation, China’s rise in research stature is driven largely by its exceptional ability to attract top-tier Western scientists, including Nobel laureates, as discussed in a previous post titled “The Persistent Disruption Metric, Nobel Minds, and China’s Long Game” 

PS - Holmes seems to have missed Yasheng Huang’s 2023 book, The Rise and Fall of the EAST (MIT Sloan), which cuts to the heart of China’s rise—fueled by exams, autocracy, stability, and technology—while warning that these very forces could choke innovation, spark social unrest, and derail economic reforms. Chinese innovation is further threatened as young people favor government jobs over startups, while Soviet-era legacies in Chinese universities enforce rigid structures and traditional mindsets that stifle creativity and hinder entrepreneurial thinking https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/06/tech-titans-clash-america-vs-china-in.html

Update after 1 day — The highest foreign interest in this post comes from the USA (14%), Singapore (10%), and Germany (6%).