Ainda relativamente ao criminoso bloqueio Russo à exportação de cereais por parte da Ucrânia, convém ter presente que como se pode ler no último na revista The Economist, quase metade (43%) da produção mundial de cereais é utilizada para alimentar animais (987 milhões ton) ou queimada como biocombustíveis (265 milhões ton) trata-se uma percentagem que é 600% superior à produção de cereais combinada da Ucrânia e da Rússia, o que significa que bastava que desde há uns anos a esta parte os países ricos tivessem diminuído o seu consumo de carne, para um valor próximo daquilo que é valor recomendado pela OMS de 135 gramas por dia (50 kg/ano) para que a actual crise de fornecimento de cereais (e também de preços) fosse puramente residual.
Acresce que como refere o artigo da revista The Economist, a utilização de cereais para alimentar animais é um processo extremamente ineficiente, pois por cada 100 calorias de cereais, isso acaba no final por resultar apenas em 3 calorias de carne para consumo humano.
Isto já para nem falar que, a bem ou à força, é isso que irá acontecer inevitavelmente no médio prazo, pois se é verdade que há quem não seja sensível às emissões associadas à produção de carne, acabarão ainda assim por ter de engolir uma realidade da qual não é possível fugir, que é a dos constrangimentos associados à necessidade de alimentar 10.000 milhões de pessoas, contexto para o qual são mencionados valores de consumo de carne de no máximo 85 gramas por dia (31 kg/ano) https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/01/como-alimentar-10000-milhoes-de-pessoas.html
PS - De acordo com o INE, em 2021, o consumo médio de carne, por habitante em Portugal foi de 315 gramas por dia (115 kg/ano).