A universidade do Minho acaba de anunciar um concurso para um lugar de Catedrático da área científica de engenharia civil (Edital nº 1434/2023 de 2 de Agosto) onde se exige:
"Evidência da relevância do trabalho na comunidade científica, expressa por um h -index (sem -auto citações) igual ou superior a 15 (nas bases de dados Scopus ou Web of Science)"
Curiosa e coincidentemente, em 19 de Dezembro de 2022, já tinha divulgado um concurso para um lugar de catedrático de engenharia civil, na universidade de Lisboa, onde também era exigido um h-índex mínimo de 15 na base Scopus. Fi-lo num post onde lembrei, que uma análise bibliométrica, que levei a cabo, sobre uma amostra de largas dezenas de professores, associados e catedráticos (124-cento e vinte e quatro), da mesma área científica, apurou um h-index=15, para o subgrupo com o melhor desempenho (Top 5%).
Errado é porém admitir que de repente, no Ano da Graça de 2023, a Academia, ou pelo menos esta área científica em particular (que apesar de receber muito menos dinheiro do OE do que outras áreas ainda assim consegue ser uma mais competitivas de Portugal) se tornou tão exigente, ao ponto de definir como um requisito mínimo o mesmo valor de h-index dos professores associados e catedráticos, com o melhor desempenho.
A verdade é que a tal supracitada análise bibliométrica, foi efectuada há quase uma década atrás, https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/30767 pelo que tendo em conta o valor do rácio h-index/ano, que foi uma das métricas apuradas na altura (tanto para associados como para catedráticos), multiplicado pelos anos que decorreram entretanto, significa que o valor actualizado desagregado, resulta num h-index=21 para os melhores associados e num h-index=27 para os melhores catedráticos desta área científica. O que significa assim que o h-index mínimo=15, exigível neste concurso (e também no outro anterior da universidade de Lisboa) é afinal inferior ao h-index do grupo dos melhores professores associados.
Questão diferente mas não menos pertinente é a aquela que se relaciona, com a iniquidade (e consequente violação do principio do mérito consagrado na Constituição da República Portuguesa) de se exigirem mínimos de h-index aos novos catedráticos, ao mesmo tempo que se faz vista grossa ao facto de haver catedráticos que não possuem esses mínimos. Talvez a dita iniquidade permita perceber melhor porque é que no final do tal post sugeri o "despedimento dos Associados e Catedráticos com um h-índex inferior a 10" https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2022/12/h-index-minimo-como-condicao-de-acesso.html
PS - Em Outubro de 2021, comentei o facto da universidade do Porto, ter despedido um professor porque aquele mostrou-se incapaz de produzir artigos com credibilidade. Por certo deve ter sido o primeiro a ser despedido de uma universidade pública Portuguesa por essa razão. https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/10/publico-professor-universitario.html Seja como for fica-se com a noção que se ele tivesse produzido 1 artigo com credibilidade não teria sido despedido. Mas será que produzir 1 artigo com credibilidade é suficiente como patamar mínimo da Academia de um país europeu ? Mesmo a condição de despedimento, por mim sugerida, para aqueles professores associados ou catedráticos, que foram incapazes de produzir 10 artigos com credibilidade, não estava sujeita a qualquer limite temporal, significando isso que mesmo que tivessem levado 30 anos para os produzir já estariam a salvo desse despedimento. Pergunto por isso, será exigir muito que um professor universitário de uma universidade de um país europeu consiga produzir 1 artigo credível a cada 3 anos, quando ainda por cima nesse mesmo país há doutorados que apesar de terem produzido muitíssimo mais do que isso, como esta aqui, mesmo assim foram "despedidos"?