domingo, 20 de julho de 2025

Uma das grandes culpadas pela crise da habitação de que curiosamente ninguém fala


"Temos um problema gravíssimo de habitação que vai muito além dos bairros de barracas, dos imigrantes e dos desfavorecidos - afecta toda a classe média nacional"

O extracto supra foi retirado do final de um interessante artigo da Subdirectora da revista Visão, o que esse artigo porém não fez foi identificar os múltiplos culpados desse estado de coisas verdadeiramente terceiro-mundista, começando por aqueles com mais culpas no cartório. É verdade que é muito fácil culpar os sucessivos Governos deste país, devido ao anormalmente baixo nível de investimento e ao facto do parque habitacional público ser muito inferior à média europeia (numa percentagem seis vezes inferior à da Dinamarca e que é quase dez vezes menos do que na Holanda) e também por não terem alterado a legislação, para evitar que um simples licenciamento demore um tempo anormalmente excessivo, o que faz de Portugal um dos países europeus com o pior desempenho nesta área, sendo além disso um foco de corrupção https://expresso.pt/opiniao/2025-01-09-a-burocracia-que-alimenta-a-corrupcao-o-circo-dos-licenciamentos-em-portugal-7c8336bc

Também é muito fácil culpar os alojamentos locais, pelo facto de terem retirado do mercado milhares de casas, ou os vistos gold (que em muitos casos servem para lavar dinheiro de origem criminosa) que trouxeram consigo a danosa praga de investimentos imobiliários especulativos e o consequente brutal aumento de preços. Aquilo de que porém ninguém fala é do facto da maior parte da indústria da construção, onde se pretende fazer crer que a falta de mão de obra explica tudo (o que não é rigoroso) continuar a utilizar métodos construtivos obsoletos que já se utilizavam há muitas décadas atrás e que fazem com que a construção de um pequeno edifício multifamiliar demore quase uma eternidade. E como em Portugal a mão de obra pesa quase 40% do custo total, a redução do tempo de execução por conta da utilização de uma elevada componente pré-fabricada (off-site), consegue reduzir o custo total, por redução das horas necessárias para a construção, redução dos custos indirectos e dos custos financeiros, já para não falar das poupanças associadas à redução dos desperdícios de materiais. 

Neste contexto recordo que em Novembro de 2024, divulguei o caso de um empresa nacional, que com recurso a um elevado nível de pré-fabricação, erigiu um edifício de 4 andares em Guimarães, num tempo bastante inferior (50%) aquilo que é a prática corrente e o qual até ganhou um prémio de sustentabilidade https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/11/primeiro-edificio-de-construcao-hibrida.html tecnologia essa que já permitiu à mesma empresa executar outros edificios com menores prazos de execução e optimização de recursos. Mas mesmo que num cenário excessivamente optimista este se viesse a tornar, no novo standard da industria de construção de edificios nacional (algo que infelizmente não irá acontecer), o facto é que ficava ainda assim muito abaixo, daquilo que são as práticas internacionais mais expeditas, como quando na China construíram um edifício de 10 andares em apenas dois dias e um edifício de 57 andares em 19 dias ou quando no mesmo país construíram um edifício de vários andares, com um total de 208 apartamentos, em 5 dias, um ritmo que permitiria a uma única empresa construir 1000 apartamentos por ano. 

Resumindo e concluindo: Para aumentar a oferta de habitação e baixar os preços, o Governo — este ou outro — deve reforçar o investimento público, acelerar licenciamentos e travar a especulação, regulando os malfadados vistos gold e os alojamentos locais. Deve também incentivar, de forma clara, a utilização de métodos construtivos industrializados off-site, que reduzem custos, prazos e desperdícios. E esse incentivo pode ser concretizado através de benefícios fiscais, financiamento bonificado, formação técnica especializada e pela aprovação de legislação que favoreça a utilização destes sistemas construtivos nas obras públicas.