terça-feira, 14 de novembro de 2023

Troca de correspondência com os investigadores Miguel Prudêncio da ULisboa e Nuno Cerca da UMinho

 

A meu ver, a parte mais informativa e mais interessante deste post, é o PS da parte final, que aborda o conteúdo, de um ácido nas muito esclarecedor email, do Domingo de 20 de Maio de 2018 ! Faço questão de frisar bem essa data, porque Maio de 2018, ocorreu sete meses antes do conhecido Matemático Francês Presidente do conhecido European Research Council (o organismo cujas bolsas de investigação já ganharam 14 prémios Nobel) vir "explicar" aqueles ingénuos investigadores, que ainda não o perceberam, que necessitam de ter um indomável espirito combativo,  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/12/there-are-times-when-scientists-must.html para fazer face â ameaça que representam aqueles muitos de mente tacanha, que não sabem o que é a carreira de investigação, nem muito menos sabem o significado da serendipidade na investigação científica, e em especial a magna ameaça protagonizada por politicos, igualmente tacanhos, mas também velhacos, medíocres e hipócritas, que ao mesmo tempo que cortam a fundo nas verbas da investigação, depois ainda tem a supina falta de vergonha de jurar que adoram a Ciência. 



De: F. Pacheco Torgal 
Enviado: 14 de novembro de 2023 06:39
Para: Miguel Prudêncio
Assunto: Artigo "A grande ilusão dos concursos “regulares” da FCT"
 
Caro Colega
aproveito desde já para louvar a oportunidade do seu artigo, que hoje aparece na página 29 do jornal Público, não só quanto à falta de regularidade dos concursos da FCT, mas também quanto ao subfinanciamento da Ciência, o qual recordo já denunciei mais de uma dezena de vezes nos meus blogues, como por exemplo nos três posts abaixo:

Marco de 2023-Governo Português continua a desviar dinheiro que pertence à Ciência
Janeiro de 2022-  Um Vice-Presidente profundamente ignorante ou profundamente hipócrita ? https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2022/01/um-vice-presidente-profundamente.html
Setembro de 2021-Governo da Estónia envergonha Governo Português 

Sobre o seu artigo tenho apenas uma dúvida, porque não aproveitou para criticar a desonestidade do novo programa FCT tenure ? Sobre este tema reenvio abaixo um email que há poucos minutos enviei ao investigador Nuno Cerca.
Saudações académicas
Pacheco Torgal



De: F. Pacheco Torgal 
Enviado: 14 de novembro de 2023 06:02
Para: Nuno Miguel Dias Cerca 
Assunto: RE: UMinho FCT Tenure aplication
 
Caro Nuno, 
eu compreendo o seu pragmatismo "de jogar com as cartas que tem na mão", o problema é que se trata de um jogo de cartas viciadas, onde há vencedores logo à partida (as universidades com uma boa situação financeira) e onde o máximo que a UMinho pode aspirar é tentar perde o menos possível, já que seguramente nunca a UMinho pode competir com outras instituições se sofre uma situação de subfinanciamento permanente. 

Infelizmente o Reitor da UMinho que devia repetir isto todos os dias, só o menciona muito raramente, quase como se estivesse conformado com a afronta. Este posicionamento é tão incompreensível que foi o próprio Reitor da Ulisboa que disse publicamente que não compreendia que a UMinho e outras aceitassem ser tão maltratadas https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/08/o-reitor-da-ulisboa-e-as-universidades.html quase como se as estivesse a acusar de não terem um mínimo de dignidade própria.

Mas estamos a esquecer o fundamental, se as universidades vão tentar combater o envelhecimento do corpo docente então vão contratar docentes e não investigadores. Portanto isso significa que está em curso um programa de destruição de investigadores.Assim sendo, e apesar da necessidade de jogar o tal jogo viciado, até que seja substituído por outro, é fundamental que se transmita para a opinião pública que isto é um enxovalho do Governo à investigação e ao ensino superior e não se permita ao Governo que fique com fama de estar a ajudar os investigadores. Não está. Se esta moda pega e os politicos passam a gostar desta genial invenção, então depois não se admire que a seguir ao FCT tenure  venha o FCT tenure plus que financiará 30% a 3 anos ou mesmo 30% a 2 anos, que é uma forma de com o mesmo dinheiro ainda conseguir chegar a mais investigadores.  


PS - O novel programa FCT tenure, traz-me à memória, um antigo "sonho" do Sr.Reitor da Universidade de Lisboa, que passava por destruir a carreira de investigação. Sonho de tacanha natureza esse, que comentei num email, que no Domingo, 20 de Maio de 2018, enviei a alguns milhares de Colegas. Reproduzo abaixo uma parte desse email (a parte inicial, aquela mais suave). Dessa altura recordo também, com elevada satisfação, que apenas três semanas depois de eu ter enviado esse email, o Reitor da Universidade Nova, pronunciou-se sobre o tal sonho do magnifico Reitor da Universidade de Lisboa, num artigo nada meigo, onde o acusou de ligeireza e de ignorância sobre coisas fundamentais. 

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De: F. Pacheco Torgal
Enviado: domingo, 20/05/2018 à(s) 21:21
Assunto: A nova "pupila" do Sr. Reitor da Universidade de Lisboa

Recebi hoje um email de um colega da ULisboa dando-me conta de um recente discurso do senhor Reitor daquela universidade, onde aquele aproveitou para revelar a sua nova “pupila”, quando disse que pela sua parte tudo fará para acabar com a carreira de investigaçãopois segundo o próprio em Harvard não há investigadores mas somente professores, discurso acessível aqui https://www.youtube.com/watch?v=c5jGL6mqwnc

Antes porém de comentar a oportunidade e a substância daquela que é a nova e inusitada “pupila” do Sr. Reitor é pertinente que comente antes disso “outro pupilo” do Sr. Reitor, comentário esse que serve como comprovativo introdutório sobre a qualidade do referido discurso.

Ao minuto 31 do discurso disse o Sr. Reitor que em 2016 a Universidade de Lisboa estava à frente de todas as Universidades Italianas e Espanholas no ranking Shangai. Este facto porém não corresponde minimamente à verdade e mostra como o Sr. Reitor não se importa de usar factos alternativos em sua defesa, porque no referido ano e no referido ranking a Univ. de Lisboa estava no grupo 150-200, o mesmo grupo onde estavam a Univ. Sapienza e a Univ.Barcelona e nesse grupo a ULisboa até aparece abaixo daquelas e não é por mero acaso. 

Já sobre as pérolas que envolvem a universidade de Harvard é bom saber que o Sr. Reitor têm elevadas ambições para a Universidade de Lisboa, infelizmente parecem ambições na mesma linha daquele conhecido sapo que tentou imitar um boi e que como todos sabemos não acabou bem. Desde logo é muito estranho que o Sr. Reitor compare a ULisboa a Harvard quando não consegue sequer que a sua universidade figure sequer no ranking das 100 mais inovadoras da Europa https://www.reuters.com/article/us-emea-reuters-ranking-innovative-unive/reuters-top-100-europes-most-innovative-universities-2018-idUSKBN1HW0B4

Curiosamente também nunca preocupou o Sr. Reitor que a percentagem de endogamia da universidade que "dirige" esteja muito longe da Universidade de Harvard. http://www.dgeec.mec.pt/np4/EstatDocentes/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=138&fileName=EndogamiaAcademica.pdf  

Se a endogamia por cá até choca o Sr.Ministro que publicamente a considerou inadmissível em Harvard era garantido que dava direito ao despedimento daqueles que nada fizeram para a impedir. Se coerência houvesse o Sr. Reitor tinha-se demitido no mesmo dia em que o Ministro Manuel Heitor se pronunciou sobre a endogamia daquelas unidades orgânicas que fizeram o pleno ou que são conhecidas como o clube do bolinha, aqui só entra quem é da casa. Ou seja relativamente a Harvard o Sr. Reitor só olha para aquilo que lhe dá jeito. O que não dá jeito é como se não existisse. 

É verdade que de Harvard não conheço tanto como o Sr. Reitor (ou talvez conheça...) mas conheço pelo menos alguma coisa de algumas universidades da Suécia, onde há professores sexagenários a concorrer e ganhar bolsas da ERC e a escrever artigos em nome individual, sem explorarem o trabalho de bolseiros (ou como escreveu um catedrático de Stanford, que se especializarem na escravatura de jovens investigadores) que é coisa que por cá há pouco e já nem falo daquele milhar de professores que a DGEEC diz que não estão integrados em nenhuma unidade de investigação, mas que o Sr. Reitor diz que nunca ouviu falar, pois como ele diz no seu discurso não conhece nenhum professor que não faça investigação, isto muito embora haja no documento no link abaixo várias centenas (355 ETI) nessa condição e que pertencem curiosamente à Universidade de Lisboa http://www.dgeec.mec.pt/np4/392/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=822&fileName=DocentesEmUnidadesFCT.pdf

A verdade que o Sr. Reitor têm dificuldade em reconhecer é que a academia Portuguesa tem elevada diversidade. Há por lá raros professores de elevada craveira, como o conhecido Sobrinho Simões, que fazem o pleno em termos de pedagogia e de liderança no campo da investigação, há também por lá muitos professores com elevadas capacidades pedagógicas, mas sem capacidade para fazer investigação, há ainda excelentes professores com elevada capacidade de investigação, mas pouco ou nenhum interesse pela docência, de quem os alunos não sentem falta e muito menos saudade e até há na academia Portuguesa quem não tenha qualquer capacidade pedagógica nem nunca sequer tenha dado mostras de ter especial inclinação para a investigação, que ninguém percebe como é que chegaram à nomeação definitiva e porém lá se vão aguentando dando as suas aulinhas e conseguindo até por vezes que o nome deles apareça em artigos onde fizeram nada....