sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

As novas obrigações morais de professores universitários e investigadores



Se é certo que as restrições éticas à entrada na carreira académica e de investigação, que foram mencionadas no post supra, se podem remeter (cómoda mas hipocritamente) para o médio ou longo prazo, já as obrigações morais de professores universitários e investigadores, no respeitante a terem um comportamento sustentável, já não possível descartá-las com essa facilidade, pois se aqueles ligados à ciência, que tanto estudam, escrevem e falam sobre emergência climática e a urgência de comportamentos sustentáveis, não são capazes de liderar pelo exemplo, pelo que muito dificilmente conseguirão convencer os seus concidadãos, para que também eles possam o mais cedo possível perceber a sua indeclinável quota parte de responsabilidade nessa tarefa coletiva. https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/10/the-role-of-academia-towards-type-1.html

É verdade que muito poucos professores universitários e investigadores conseguirão fazer o que faz o cientista Peter Kalmus (titular de um Scopus h-index=57), que conseguiu reduzir a sua pegada carbónica anual a apenas 2 toneladas,  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/10/peter-kalmus-teaches-incoherent_29.html  mas esses (como eu próprio) sempre podem em alternativa comprar créditos de carbono (para compensarem as suas emissões) em programas levadas a cabo em países do terceiro mundo, dessa forma também contribuindo para reduzir o gravíssimo problema da desigualdade económica mundial, que o conhecido catedrático Thomas Piketty, no seu último livro, aponta como constituindo um obstáculo intransponível na reconciliação entre a Humanidade e a Natureza. 

Declaração de interesses - Declaro que não tenho qualquer ligação à plataforma Climate Stewards onde é fácil saber qual a pegada carbónica individual e que até disponibiliza a expedita possibilidade de compra de créditos de carbono a 30 euros a tonelada, o que significa que qualquer professor universitário ou investigador, que não seja viciado em viagens de avião, (nem consuma meio quilo de carnes vermelhas por dia) consegue facilmente suportar a compensação das suas emissões de carbono. 

PS - O supracitado cientista é um daqueles que "sucumbiu" ao apelo dos catedráticos C.Gardner (Kent U.) e C.Wordley (Cambridge U.) que em 2019, num artigo publicado na revista Nature, apelaram aos cientistas para que se juntem a movimentos de desobediência civil, introduzindo assim uma dimensão adicional de responsabilidade às obrigações universitárias   https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/10/the-scientists-who-have-abandon.html responsabilidade essa que se tornou muitíssimo mais evidente face à gravidade do discurso de dois outros catedráticos, Gills and Morgan: "Dramatic action is now urgently needed by all—from governments, financial entities, corporations, communities, households, and individuals...without it our nightmares may become realities"