Um extenso artigo publicado no jornal Público de hoje (link acima) aborda o interesse de fundos internacionais pela agricultura Portuguesa, nele se podendo ler que o “número de fundos que investem no sector agrícola se multiplicou 15 vezes nos últimos 15 anos, alcançando um volume superior a 700 milhões de euros na Península Ibérica....o retorno dos investimentos em terra agrícola rondou os 10,7% ao ano, contra, por exemplo, 5,4% no ouro"
Sobre a noticia supra, começo por recordar que em 13 de Novembro de 2021, um artigo publicado no Expresso, deu conta, que a procura de terrenos agrícolas em Portugal por parte de fundos internacionais, levou a aumentos de preços de mais de 2000%, para valores entre 30.000 euros (valor mínimo) até 120.000 euros por hectare https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/expresso-procura-por-fundos.html
Tenho para mim porém, que não são os tais 10,7% de retorno que move esses fundos, porque há muitas áreas de negócio com retornos superiores a esse valor, mas antes os elevados lucros, que se obterão com a exportação de produtos agrícolas para países onde haverá um aumento da população em simultâneo com uma diminuição da área arável, e até dos lucros astronómicos, que se poderão vir a obter no cenário catastrófico, contido num artigo de investigadores da universidade de Cambridge, que foi publicado há um ano atrás, na revista científica Futures e onde se estima em quase 6000 milhões o número de mortes por fome em 2100. Não se pense porém que esse será únicamente um problema de países pobres, porque lá se refere que até mesmo o moderno e 10º mais rico país do mundo, que é a Austrália, terá quase 850.000 mortos. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0016328723000770
Sem surpresa, esse estudo cita um outro estudo, sobre o mesmo gravíssimo problema, com autoria de mais de uma dezena de cientistas de universidades dos EUA, Canadá e Reino Unido, que eu já tinha divulgado num post de 2021 https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/10/pessimo-futuro-para-os-140-milhoes-de.html
PS - Na mesma edição do jornal Público de hoje, tive o deprimente desprazer de ler um artigo de um catedrático jubilado Coimbrão, antigo Conselheiro de Estado, que achou boa ideia dedicar o seu tempo e a sua palavra, a um tema de quinta categoria. Que futuro pode ter este país, quando a sua elite intelectual, assim desperdiça o seu tempo e o seu prestigio, com assuntos menores, que um outro conhecido catedrático jubilado da Universidade de Lisboa, em tempos corajosamente classificou de forma certeira, como sendo alienantes e deseducativos.