sábado, 14 de dezembro de 2024

Nepotismo catedrático: Ministro Fernando Alexandre propõe que os docentes e investigadores não possam ser contratados pelas instituições onde se doutoraram


Hoje o jornal Público revelou que o Governo pretende, talvez para celebrar os 50 anos da democracia Portuguesa, tentar aproximar, de forma muito suave, este país daquilo que há muito se faz noutros países, como por exemplo na Alemanha e nos EUA. É porém evidente que esta suave medida não vai passar, pela simples razão que afronta os catedráticos e catedráticas, donos da Academia, cujo grande sonho de vida, é poderem ser sucedidos nesse cargo pelos seus filhos e filhas. Não sou eu que o digo, foi um feroz magistrado aposentado, que em 2020, no seu blog, criticou essa "tradição" de forma veemente "Eppure...isto não deixa de ser vergonhoso e até indigno" https://portadaloja.blogspot.com/2020/02/a-licao-de-coimbra-e-italiana.html

Sobre a peregrina, mas ainda assim muito suave, proposta do Ministro Fernando Alexandre, entendo como pertinente relembrar, que em 2015 fui o primeiro subscritor de uma petição contra a viciação concursal associada à endogamia académica. De lá para cá e já passaram quase 10 anos, praticamente nada foi feito para tentar resolver o referido problema. Em 2017 foi publicado o primeiro Estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, que confirmou que a Universidade de Coimbra é a campeã nacional da endogamia, estudo esse que na altura suscitou a indignação do Ministro Heitor, a qual porém, qual montanha que pariu um rato, se traduziu apenas na aprovação de uma tímida medida pela FCT, e que somente se aplica aos bolseiros de pós-doutoramento. Pessoalmente e em coerência com aquilo que defendi em 2015, na supracitada petição, entendo que a melhor forma de combater a endogamia académica, passa por alterar os júris dos concursos para que sejam integralmente constituídos por especialistas estrangeiros, como sucedeu nos concursos Investigador-FCT, uma hipótese alternativa, praticada  nas universidades da Suécia, passa por convidar um professor de uma universidade estrangeira de topo, para eliminar os candidatos mais fracos e escolher os 2 ou 3 que passarão à fase final. Vide exemplo https://www.docdroid.net/ONpHyGk/review-by-aalto-university-expert-pdf

PS - Num post anterior de 2023, comentei de forma negativa o programa FCT tenure, nesse post abstive-me porém, porque entendi que era redundante fazê-lo, de criticar como realmente merecia um aspecto crucial do mesmo. Que esse programa, a coberto de alegadas piedosas intenções, conseguiu algo imperdoável, retirar à FCT a realização dos concursos, com recurso a especialistas estrangeiros, que constitui a sua principal mais valia, entregando-os às universidades e aos seus tradicionais júris caseiros, assim favorecendo a selecção dos investigadores mais subservientes, como há muito sucede nos concursos para a carreira docente, como foi confessado por um Reitor de uma universidade pública https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/08/reitor-diz-que-os-juris-academicos.html e vários anos antes já tinha sido denunciado por vários catedráticos, como por exemplo aqueles dois corajosos catedráticos da Universidade de Lisboa que foram mencionados aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/04/9-euros-e-quanto-custa-o-livro-sobre-os.html Em suma, o programa FCT tenure escancarou as portas ao nepotismo, consubstanciando uma vitória dos mais retrógrados e perniciosos interesses instalados da Academia Portuguesa, que terá como consequência mais evidente a saída de talento científico para outros países, onde a endogamia e o nepotismo catedrático não ditam as regras.