domingo, 8 de dezembro de 2024

Estarão os 100 Investigadores mais citados de Portugal a aproveitar devidamente a notável ascensão da Ciência Chinesa ?


Na sequência do post anterior (acessível no link supra) onde se revelou quais as universidades e politécnicos públicos que mais (e menos) tem ajudado Portugal a tentar alcançar a meta de 7% de colaborações com China, como já sucede com a Alemanha e a Suiça, é pertinente tentar saber até que ponto os 100 investigadores mais citados de Portugal, de acordo com o ficheiro carreira do ranking Stanford https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/09/portugal-os-100-investigadores-mais.html  se preocuparam ao longo da sua carreira em estabelecer colaborações, com investigadores do referido país, que em poucos anos se tornou uma potência científica mundial, por mérito próprio. Note-se que numa entrevista que hoje aparece no jornal Público,  a cientista septuagenária Maria Leptin, Presidente do Conselho Europeu de Investigação, avisa que anualmente a China investe em investigação 50% mais do que a Europa ! https://www.publico.pt/2024/12/08/ciencia/entrevista/maria-leptin-ciencia-investe-ganha-europa-ficou-tras-2114625

A média da amostra da lista infra é infelizmente de apenas 3%, havendo apenas uma dezena de investigadores com uma percentagem superior a 10% e um Investigador, Alan Lander Philips, com uma elevada percentagem de 41%, sem o qual a média global seria ainda mais baixa e que só é pena que já se tenha aposentado. No grupo dos que possuem baixas percentagens de colaborações com a China, merecem destaque pela positiva, aqueles vários que em contrapartida, possuem colaborações com outros países científicamente muito competitivos, como é por exemplo o caso dos investigadores Maria Carmo-Fonseca e Miguel Bastos Araújo, que possuem percentagens de colaborações com investigadores da Alemanha, de respectivamente 20% e 14%, porém dificilmente se entende, que haja outros investigadores que nas suas colaborações tenham decido privilegiar países científicamente pouco competitivos, como o Brasil,  por falta de ambição ou incapacidade prospectiva https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/10/six-books-to-understand-future.html

1.       Damásio, A.

USouth Calif..........0%

2.       Hespanha, J. P.

UCalifornia............4%

3.       Davim, J. P.

UAveiro..................4%

4.       Domingos, P.

U.Washington........0%

5.       Mano, João F.

Aveiro....................2%

6.       Araújo, M.B.

CSIC......................3%

7.       Liddle, Andrew R.

ULisboa.................6%

8.       Guedes Soares, C.

ULisboa.................13%

9.       Reis e Sousa, C.

Francis Crick Inst..0.6%

10.   Damásio, Hanna

USouth Calif............0%

11.   Ferro, José M.

ULisboa...................3%

12.   Tenreiro Machado, J. A.

Pol. Porto................11%

13.   Bioucas-Dias, José M.

ULisboa...................11%

14.   Heald, Richard J.

Champalimaud F.....0%

15.   Coutinho, João A.P.

UAveiro...................0.1%

16.   Figueiredo, Mário A.T.

ULisboa...................1%

17.   Barros, Carlos

ULisboa....................7%

18.   Chaves, Maria Manuela

ULisboa....................0%

19.   Figueiredo, José L.

UPorto......................0.5%

20.   Cunha, Rodrigo A.

UCoimbra.................3%

21.   Montemor, M. F.

ULisboa....................0.3%

22.   Ferreira, S.

UPorto......................-

23.   Rodrigues, Alírio E.

UPorto.......................5%

24.   Lobo, Francisco S.N.

ULisboa.....................6%

25.   Bakermans-Kranenburg, M. J.

ISPA...........................2%

26.   Lourenço, Paulo B.

UMinho.....................0.3%

27.   Ferreira, A. J.M.

UPorto.......................4%

28.   Reis, Rui L.

UMinho......................4%

29.   Brett, Christopher M.A.

UCoimbra..................0.6%

30.   Gama, João

UPorto........................2%

31.   Cardoso, Vitor

ULisboa......................2%

32.   Malcata, Francisco X.

UPorto........................0%

33.   Catalão, João P.S.

UPorto.......................10%

34.   Lindman, Björn

UCoimbra....................1%

35.   Moreira, Paula I.

UCoimbra...................2%

36.   Silveirinha, Mário G.

ULisboa......................0.7%

37.   Pereira, Helena

ULisboa......................0%

38.   Bertolami, Orfeu

UPorto........................0.4%

39.   Cardoso, Fatima

Champalimaud F........5%

40.   Pacheco-Torgal, F.

UMinho.......................17%

41.   Rocha, Joao

UAveiro.......................4%

42.   Brito, Jorge

ULisboa.......................2%

43.   Falcão, A. F.O.

ULisboa.......................0%

44.   Derouane, E. G.

UAlgarve.....................1%

45.   Rodrigues, Joel J.P.C.

ULusófona..................28%

46.   Pombeiro, Arman

ULisboa.......................6%

47.   Ferreira, Mario G.S.

UAveiro.......................11%

48.   Oliveira, Rui F.

Inst. Gulbenkian.........1%

49.   Varandas, António J.C.

UCoimbra..................18%

50.   Pereira, Luis S.

ULisboa......................14%

51.   Veldhoen, Marc

ULisboa......................3%

52.   Carmo-Fonseca, M.

ULisboa.....................0.5%

53.   Sousa, Nuno

UMinho......................2%

54.   Santos, Nuno C.

UPorto........................3%

55.   Peças Lopes, J. A.

UPorto........................0%

56.   Kamel Boulos, M.N.

ULisboa......................12%

57.   Souto, Eliana B.

UPorto........................2%

58.   Rocha-Santos, Teresa

UAveiro......................2%

59.   Schütz, Gunter M.

ULisboa.......................0%

60.   Carvalho, F. P.

ULisboa.......................2%

61.   Cavaco-Paulo, Artur

UMinho.......................19%

62.   Rodrigues, Lígia R.

UMinho.......................3%

63.   Lemos, José P.S.

ULisboa.......................3%

64.   Sarmento, Bruno

UPorto.........................5%

65.   Gash, John H.

ULisboa.......................2%

66.   Oliva-Teles, Aires

UPorto..........................1%

67.   Vasconcelos, Vítor

UPorto........................0.5%

68.   Miguel, Maria G.

UAlgarve.......................0%

69.   Saraiva, Maria J.

UPorto...........................0%

70.   McGregor, Peter K.

ISPA..............................0%

71.   Graça, Manuel A.S.

UCoimbra.....................1%

72.   Schmitt, Fernan C.

UPorto..........................2%

73.   Loureiro, Sandra M. C.

Iscte..............................2%

74.   Herdeiro, Carlos A.R.

UAveiro........................4%

75.   Simões, Manuel

UPorto...........................0%

76.   Flores, Paulo

UMinho........................3%

77.   Sousa Santos, B.

UCoimbra.....................0%

78.   Paterson, Robert R.M.

UMinho.........................0%

79.   Ferreira, Isabel C

Pol.Bragança..............0.3%

80.   Carlos, L. D.

UAveiro........................5%

81.   Edens, John F.

Texas A&M...................0%

82.   Phillips, Alan J.L.

ULisboa.......................41%

83.   Semin, Gün R.

ISPA.............................0%

84.   Kundu, Subhas C.

UMinho.......................19%

85.   Konotop, Vladimir V.

ULisboa......................12%

86.   Barros, Lillian

Pol.  Bragança............0.2%

87.   Vilar, Rui

ULisboa.......................3%

88.   Carvalho, M.

ULisboa........................1%

89.   Kholkin, Andrei

UAveiro.........................3%

90.   Zilhão, João

ULisboa........................1%

91.   Marques, Rui C.

ULusófona....................1%

92.   Sobrinho-Simões, M.

UPorto.......................0.2%

93.   Martins, Rodrigo

UNova..........................5%

94.   Órfão, José J.M.

UPorto.........................0%

95.   Antunes, Manuel J.

UCoimbra....................0%

96.   Leitão, Paulo

Pol. Bragança............0.5%

97.   Fernández-Rossier, J.

INL...............................1%

98.   Manaia, Célia M.

UCatólica.....................5%

99.   Camarinha-Matos, Luis 

UNova.........................0.5%

100.                      Fortunato, Elvira

UNova..........................5% 

 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

U.Lisboa e U.Minho são as universidades com o maior crescimento em termos de colaborações com uma potência emergente da ciência mundial



Já não bastavam as péssimas noticias implícitas no facto da Europa já não ser capaz de "cativar" os seus melhores cientistas, vide post acessível no link supra e agora fica-se a saber, através de um recente relatório da Clarivate Analytics  "2024: Research Front-Active Fields, Leading Countries", que a Europa faz triste figura frente à China. Na tabela 3 da página 9, pode ler-se que a China aparece em 1º lugar em 39 áreas, enquanto que a Europa faz figura de parente pobre, pois a soma dos primeiros lugares da Alemanha, do Reino Unido e França, fica-se apenas por 6 (seis) áreas!!!

Neste contexto importa recordar que há alguns anos atrás mostrei que muito embora Portugal tenha sido capaz de aumentar o número das suas publicações científicas não tem tido a mesma capacidade para aumentar o impacto dessas publicações. Infelizmente de ano para ano, o impacto "cresce" em sentido contrário https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2022/08/picec-processo-de-irrelevancia.html 

Como também então escrevi, uma das formas mais evidentes (e mais baratas) de conseguir aumentar o impacto dessas publicações passa por diminuir de intensidade as colaborações com investigadores de países cientificamente pouco competitivos, para privilegiar as publicações com co-autoria de investigadores de países muito mais competitivos. E nesta área Portugal tem tido um comportamento bastante criticável porque uma análise das colaborações ao longo dos últimos 60 anosmostra que as colaborações científicas tem descurado os países mais cientificamente competitivos https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/evolucao-das-colaboracoes-cientificas.html

Relativamente a esta questão, em Julho de 2023 analisei o desempenho das universidades e Politécnicos Portugueses que no biénio 2021 e 2022 tiveram mais (e menos) capacidade de produzir publicações conjuntas com investigadores dessa potência científica em ascensão que é a China https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2023/07/colaboracoes-internacionais-das.html e agora faz todo o sentido analisar como evoluíram essas colaborações no biénio 2023 e 2024. 

A nova lista que abaixo se reproduz permite constatar que há dez instituições que melhoraram a sua prestação no novo biénio, sendo que no grupo de instituições universitárias, as universidades de Lisboa e do Minho foram aquelas que tiveram o maior crescimento, representando mais de 40% de todas as publicações indexadas com afiliação Chinesa. 

É importante frisar que a média nacional das publicações com afiliação Chinesa subiu para 4.8%, uma subida ligeira de apenas 1% face aos 3.8% do biénio anterior, e essa subida teria sido ainda menor se a U.Minho e a U.Lisboa tivessem tido o mesmo desempenho de outras universidades. Trata-se de um valor insatisfatório porque Portugal deve tentar alcançar a mesma percentagem da Alemanha e da Suiça que é de 7%.

Paradoxalmente a percentagem das colaborações com o Brasil manteve-se igual nos dois biénios, e logo num valor de 10% (o dobro da percentagem das afiliações Chinesas) o que significa que muitos investigadores Portugueses ainda continuam a apostar em colaborações que dificilmente irão contribuir para aumentar o impacto da ciência Portuguesa a nível mundial. 

Percentagem de publicações indexadas, com afiliação Chinesa, no biénio 2023 e 2024
1 - UMadeira............8%
2 - UMinho...............7% 
3 - ULisboa...............7% 
4 - UCoimbra............6% 
5 - IPol.Viana C........5% 
6 - IPol.Guarda.........5%
7 - IPol.Lisboa..........4%
8 - ISCTE.................4% 
9 - UAçores..............4% 
10 - UAveiro..............3% 
11 - UPorto...............3% 
12 - UNova................3% 
13 - UBI.....................3% 
14 - UALG.................3% 
 15 - IPol.Porto..........2% 
16 - IPol.Coimbra......2% 
17 - UÉvora...............2% 
18 - IPolPortalegre.....2% 
19 - IPol.C.Branco.....2% 
20 - IPol.Santarém.....2% 
21 - UTAD..................1% 
22 - IPol.Bragança.....1% 
23 - IPol.Leiria.............1%
24 - IPol.Tomar...........1% 
25 - IPol.Setubal.........1% 
26 - IPol.Viseu............1%
27 - UAberta..............0.7% 
28 - IPol.Beja..............0.4% 
29 - IPCA...................0.2% 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

A forma intrigante e muito pouco rigorosa como o jornal Público tentou desvalorizar o grave problema do turismo de saúde



Hoje a imprensa noticia que redes criminosas, cujo "negócio" passa por trazerem para Portugal mulheres grávidas, para poderem ser atendidas em hospitais públicos a custo zero, representando cada parto um custo entre 5000 a 6000 euros para o Estado Português. Vide link supra. 

Faço notar que o objectivo do presente post não é comentar essa noticia, antes utilizá-la como introdução para comentar o facto de recentemente o jornal Público, ter noticiado, de forma pouco rigorosa, o grave problema do referido "turismo de saúde". Nessa noticia, sobre o número de estrangeiros, não residentes, que foram atendidos no SNS, o jornal público, desvalorizou esse grave problema, ao centrar a noticia no número total, porque na verdade o total de 2024 é similar ao de 2022 e inferior ao de 2023, significando isso que os números totais não estão a aumentar, assim tentando passar a ideia (falsa) que o problema não se está a agravar. https://www.publico.pt/2024/12/01/sociedade/noticia/sns-atendeu-100-mil-cidadaos-estrangeiros-nao-residentes-ano-2113957

Porém aquilo que realmente interessa não é o numero total dos estrangeiros não residentes que foram atendidos nos hospitais públicos, porque aqueles estrangeiros não residentes que tem seguro (e são mais de 40.000 por ano) são custeados por esse seguro e não através dos impostos dos contribuintes, ao contrário do que acontece com os estrangeiros, não residentes, que não tem qualquer seguro de saúde e o facto realmente grave é que o número destes cresceu mais de 300% entre 2021 e 2024, pelo que a manter-se a referida taxa de crescimento, teremos para os próximos 5 anos consultas que poderão chegar a mais de 200.000 ano:

  • 2025: 65.409 consultas de estrangeiros não residentes sem seguro de saúde
  • 2026: 93.007
  • 2027: 132.250
  • 2028: 188.051
  • 2029: 267.396

  • Porém isso nem é o pior, porque um simples atendimento não tem um custo elevado, o pior é que estamos a falar de um turismo de saúde, especificamente para tratamentos muito caros, como bem se percebe pela frase que aparece no referido artigo "há doentes estrangeiros que vêm a Portugal apenas para fazerem tratamentos bastantes dispendiosos no SNS", pelo que tendo em conta que há medicamentos e tratamentos que custam milhões de euros, como no caso do tratamento das gémeas que envolveram o Dr. Nuno, filho do Presidente Marcelo, e muitos outros que custam centenas de milhares de euros, mesmo que admitamos apenas um valor médio de 5.000 euros para os tais tratamentos dispendiosos, teremos para os próximos anos as seguintes estimativas de custos de saúde com os tais estrangeiros não residentes sem seguro de saúde:

  • 2025: 325 milhões
  • 2026: 465 milhões
  • 2027: 661 milhões
  • 2028: 940 milhões
  • 2029: 1337 milhões

  • PS - Uma coisa bastante diferente em termos de turismo de saúde, é o facto dos hospitais privados CUF, Hospital da Luz e Lusíadas saúde estarem muito interessados e andarem a promover lá fora este tipo de turismo, mas somente para doentes estrangeiros que tem seguro, que lhes permita pagar as elevadas contas praticadas nos mesmos (por 45 dias de internamento a CUF exige a Betty Grafstein 54.000 euros), mas esse é um mercado muito competitivo, onde os hospitais privados Portugueses só tem conseguido facturar algumas poucas dezenas de milhões de euros, pela simples razão que há por esse mundo fora, muitos hospitais que também querem ganhar dinheiro  https://medicaltourisminportugal.com/

    Aditamento em 5 de Dezembro - O jornal Público volta hoje ao tema, insistindo novamente na desvalorização deste grave problema, e indo ao extremo de colocar no título do artigo uma afirmação de um inspector da saúde, que não só é bastante ingénua, como consegue até raiar a ignorância. https://www.publico.pt/2024/12/05/sociedade/noticia/inspectorgeral-igas-nao-dizer-ha-abuso-fraude-urgencias-estrangeiros-2114446  Com inspectores destes que trazem à memória a ingenuidade dos inspectores do Banco de Portugal, que na altura não foram minimamente capazes de detectar as muitas irregularidades que foram praticadas no BPN, no BPP, e no BES há todos os motivos para ficarmos ainda mais preocupados.