quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A universidade de Coimbra é a campeã nacional de perda de competitividade científica no ranking Shanghai por áreas

O prestigiado ranking Shanghai por áreas, divulgado ontem, revela que apenas as universidades de Lisboa, Porto, Minho e Algarve, bem como o Politécnico de Bragança, conseguem a proeza extraordinária de possuir áreas científicas entre as 100 mais competitivas a nível mundial: https://www.shanghairanking.com/rankings/gras/2025

U.Lisboa.............5 (perdeu três áreas no top 100 face a 2003)

U.Porto...............4 (quadriplicou o número de áreas no top 100 face a 2023)

U.Minho.............3 (aumentou uma área no top 100 face a 2023)

UALG.................1 (manteve o número de áreas no top 100 de 2023)

Pol. Bragança.....1 (manteve o número de áreas no top 100 de 2023)

Para lá dos parabéns que são devidos à universidade do Porto, pelo seu elevado desempenho, é lamentável que a Universidade de Aveiro, que no ano passado estava representada no Top 100, tenha perdido essa presença; e é também lamentável que várias universidades públicas não tenham conseguido igualar o feito do Politécnico de Bragança. A Universidade de Aveiro tem ainda mais razões para se lamentar, pois foi a instituição nacional que, face a 2024, perdeu mais áreas no top 500 deste ranking. Seja como for, em termos de quebra de competitividade, a campeã nacional é a Universidade de Coimbra, que desde 2019 perdeu quase 60% das suas áreas científicas neste prestigiado ranking.

Declaração de interesses - Declaro que nada tenho contra a universidade de Coimbra, instituição onde estive matriculado (1987-1992) na licenciatura em engenharia civil (que na altura tinha uma impressionante duração média de 14,8 anos) e depois disso também no mestrado (pré-Bolonha). Felizmente, que posso constatar que a referida área da engenharia civil é em 2025 uma das duas mais competitivas daquela universidade no ranking Shanghai. 

PS - O ranking Shanghai por áreas é extremamente importante, porque mostra que existem áreas científicas nas universidades nacionais (e no Politécnico de Bragança) que são tão competitivas a nível mundial que, só por pura ignorância, alguém pode optar por estudar no estrangeiro em áreas onde algumas instituições portuguesas apresentam uma competitividade científica muitíssimo superior. Por exemplo, quem escolha qualquer universidade alemã para ir frequentar um curso na área de Ciência e Tecnologia Alimentar fá-lo apenas e tão somente por ignorar que, nessa área, nenhuma universidade alemã conseguiu entrar no Top 100 do ranking mundial — feito que, em Portugal, é alcançado pela Universidade do Porto, pelo Politécnico de Bragança e pela Universidade do Minho.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Quem são os investigadores que mais contribuíram para o sucesso da universidade acelerada a esteroides

 

https://pachecotorgal.com/2025/09/09/a-universidade-acelerada-por-esteroides/

Há poucos meses atrás, ficou-se a saber que, pela primeira vez na sua história, a Universidade da Beira Interior conseguiu entrar no Top 1000 do prestigiado ranking Shanghai Global — o único a nível mundial que contabiliza prémios Nobel. E, no passado mês de setembro, após uma análise ás publicações indexadas mais citadas daquela instituição, produzidas durante os últimos cinco anos, escrevi que esse resultado se devia, em primeiro lugar, aos investigadores da área de Economia e Gestão, com o triplo do impacto das engenharias e, acima de tudo, aos investigadores (acelerados a esteroides) da área da Medicina, com um impacto dez vezes superior ao das engenharias. Vide post no link supra.

Pois bem, hoje que foram revelados os importantes resultados do ranking Shanghai relativo às 500 áreas científicas, mais competitivas do mundo, fica-se a saber que a minha análise expedita revelou-se bastante premonitória pois aquela universidade consegue colocar duas áreas entre as mais competitivas do mundo, precisamente nas áreas da Gestão e da  Medicina Clínica. Esta última consegue aliás algo que nem a Universidade do Minho nem a Universidade de Aveiro conseguiram  https://www.shanghairanking.com/rankings/gras/2025

Infelizmente, ainda não foi desta que alguma área de engenharia daquela universidade tenha conseguido a proeza de estar representada entre as 500 áreas mais competitivas do mundo. Uma panorama que é radicalmente diferente de outras instituições, como por exemplo a Universidade do Minho, onde as áreas das engenharias são absolutamente dominantes e representam 75% das áreas científicas daquela universidade no referido ranking. 

PS - Faço notar que a metodologia utilizada pelo supracitado ranking Shanghai por áreas sofreu alterações desde o ano passado face aos anos anteriores, quando era baseado apenas em 5 critérios relacionados com publicações e citações, pois agora há novos critérios que contabilizam inclusive o número de investigadores altamente citados e também os lugares de Editor Chefe em revistas científicas internacionais.

domingo, 16 de novembro de 2025

Desta vez não me resta outra alternativa senão defender a catedrática Fortunato

Depois de, por várias vezes, ter criticado a catedrática Elvira Fortunato durante o seu mandato como Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devo agora, por uma questão de justiça e coerência, defendê-la do ataque de que foi alvo na capa do semanário Nascer do Sol, onde foi acusada de receber dezenas de milhares de euros de forma ilegal. 

Divulgo, assim, uma parte do texto que ela enviou a título de direito de resposta ao mesmo semanário:"Existe um protocolo formal...que autoriza expressamente a atribuição de subsídios ou compensações a docentes em regime de dedicação exclusiva, quando provenientes de fundos de projectos de investigação...As verbas recebidas...provêm de financiamentos internacionais competitivos...Essa é uma prática comum em diversas instituições de ensino superior nacionais e europeias, consolidada pelo Regulamento referente ás remunerações adicionais de docentes e investigadores da universidade Nova de Lisboa (DR 879/2019)". 

Recordo que, há vários anos atrás, sugeri que os coordenadores de projetos internacionais recebessem 5% (exactamente a mesma percentagem que é recebida a título de bónus pelos trabalhadores do fisco na cobrança coerciva de impostos) do valor desses projetos, valor esse a deduzir da percentagem de 25% dos encargos gerais que as universidades extraem desses projectos. Este mecanismo não seria apenas um incentivo para aumentar significativamente as candidaturas internacionais — área em que Portugal apresenta um desempenho sofrível, vide imagem que compara o nosso país à Suécia, Suíça, Finlândia e Holanda https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/02/sera-que-os-investigadores-portugueses.html —, mas também uma medida vital para reter os investigadores nacionais mais talentosos, tentando assim que conseguissem resistir à tentação de irem trabalhar para universidades que pagam salários muito mais elevados, pois em Portugal um catedrático no 1º escalão recebe menos do que uma bolsa de pós-doutorado em certas universidades do Norte da Europa, pois ignorar esta realidade e persistir em regras anacrónicas e miserabilistas é perpetuar um círculo de mediocridade e de empobrecimento do nosso país.

Recordo também que, há quase um ano atrás, mais precisamente no dia 30 de Dezembro, recebi um email da FCT notificando-me que um projecto do qual fui investigador responsável, não tinha executado 524,56 euros, exigindo a devolução urgentíssima dessa pequena verba, sob pena da universidade do Minho ter de pagar a totalidade do valor do projecto. Compare-se esse comportamento contraproducente, que desincentiva os investigadores de tentarem poupar na gestão dos seus projectos, com aquilo que sucede na França, onde um cientista galardoado com o prémio Nobel, que visitou a universidade do Minho, revelou que naquele país, os investigadores tem total autonomia para poderem utilizar verbas de projectos que não foram executadas em despesas científicas que achem pertinentes. E compare-se isso com a autonomia que atinge níveis verdadeiramente audaciosos no caso da Agência Alemã que financia a inovação naquele país (Sprind), onde a vontade de cortar na burocracia vai ao ponto de dispensar as equipas que atingiram os objectos a que se propuseram de explicarem como gastaram o financiamento recebido "Successful teams are also not asked to offer any proof of how they spend their money. “The bureaucracy needs to be as minimal as possible,” said Costard" https://sciencebusiness.net/news/r-d-funding/inside-germanys-sprind-innovation-agency-anti-horizon-europe