domingo, 10 de julho de 2022

A mamata indecente dos suplementos remuneratórios no ensino superior


Ainda relativamente à polémica (leia-se regabofe) levantada pelo Tribunal de Contas, sobre os pagamentos de suplementos remuneratórios aqueles muitos (até demais) que no ensino superior exercem cargos de gestão, convém não esquecer que no que respeita a esses cargos, já basta o bizarro beneficio dos seus titulares, poderem ser automaticamente classificados como Excelentes, em termos de avaliação de desempenho, somente pelo facto de desempenharem um cargo (a que ironicamente e não raras vezes ascenderam unicamente por conta do Princípio de Peter), mesmo que o desempenho nesse cargo seja notoriamente medíocre. Leia-se a esse respeito um artigo corajoso e bastante contundente  de um não menos corajoso catedrático da universidade do Porto.

Numa altura em que por notória falta de verbas na Academia, onde há concursos (quer ao nível de projectos quer ao nível de recrutamento de investigadores) em que há mais de 90% de rejeição de candidaturas, é absurdo (e até escandaloso porque ao arrepio do de qualquer sentido de prioridade) que os titulares dos cargos de gestão andem a receber tais suplementos, muitas vezes para produzirem zero ou até para destruírem valor. Seria cómico se não fosse trágico que ao mesmo tempo que por falta de verbas há jovens investigadores competentes que são obrigados a emigrar, como por exemplo esta investigadora, se ande a pagar suplementos a dirigentes incompetentes

Em alternativa e numa perspectiva de minimização do desperdício de verbas públicas, seria preferível que o tempo passado em cargos de gestão, fosse majorado em 50% (ou até mesmo 100%) para efeitos do cálculo do inicio da aposentação. Já o pagamento de suplementos em dinheiro, seria admitido somente para os directores excelentes de excelentes unidades de investigação (com resultados comprovadamente extraordinários) e sairiam de uma percentagem dos projectos internacionais ganhos por essas unidades e nunca de verbas do Orçamento de Estado.

Declaração de interesses - Declaro que em posts anteriores produzi declarações que mostram o meu cepticismo (e até indignação e mesmo repúdio) pelo desempenho dos gestores públicos, como por exemplo em 2019 ou em Dezembro de 2020, ou até muito mais recentemente no mês passado aqui. 

PS - Sobre remunerações no ensino superior vale a pena também recordar isto https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2022/03/catedratico-defende-subida-do-salario.html