domingo, 13 de novembro de 2022

A serendipidade na ciência e a paralisação do progresso científico


"...academics are now, even at the start of research projects, asked to describe the ways in which their research will be impactful. This is not aligned with the notion of serendipity in science or the fact that many innovations leading to products used today were conceived without foreseen applications (Gillies, 2015). This misalignment indicates that academic research is to a large extent no longer governed by academics and that the idea of science that is dominant today overemphasises application and impact because of its focus on users and on lay university governors (often from or linked to the business sector). These conditions, along with incentives that promote the mass production of papers, are not conducive to scientific breakthroughs (Rzhetsky et al., 2015), and scientific progress and technological advancements seemed to be diminishing or stalled (e.g., Modis, 2022..."

O extracto acima diz respeito a um trecho de um artigo publicado ontem na revista científica Higher Education editada pela Springer. Nele o autor do artigo afirma (com uma estranha certeza quase científica) que os projectos de investigação, com impacto definido à partida, estão a dar cabo da serendipidade, trata-se contudo de uma pessimista opinião que não é partilhada por outros autores como a Samantha Copeland ou o Alistair McCulloch. 

Coisa diferente seria, se o autor do artigo supracitado, tivesse escrito que a probabilidade da ocorrência da serendipidade na ciência, não acontece com semelhante probabilidade para todos os cientistas, nem sequer totalmente por acaso, como reza a definição supra, vide artigo de investigadores da Noruega e da Finlândia "The ability to recognise the value of serendipitously encountered information relies on a previous understanding or interest in the topic...Serendipity prone people tend to have a more invitational and elastic attention span".https://trepo.tuni.fi/bitstream/handle/10024/137176/Serendipity_as_chaos_or_discovery.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Muito mais discutível é porém o facto do referido autor depois ainda ter ido ao ponto de ligar essa argumentação a uma alegada diminuição e até paralisia do progresso científico, apoiando-se para isso em artigos como aquele do Theodore Modis, publicado na revista Technological Forecasting and Social Change, colocado online em 2 de Janeiro e que recordo eu mencionei num post do final de Janeiro deste ano https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2022/01/entropia-complexidade-singularidade-e.html

PS - Em termos de contributo para o fomento da serendipidade na academia recordo um post anterior  com o título "As interacções como princípio existencial" e também um outro anterior aquele com o ainda mais interessante título de "A anarquia como estratégia de organização da ciência no século XXI"  https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2022/05/a-anarquia-como-estrategia-de_31.html