sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Quais as áreas cientificas onde Portugal em 2025 conseguiu ficar à frente da Alemanha ?


Na sequência do post anterior, acessível no link supra, sobre o ranking Shanghai por áreas de 2025, post esse em cuja parte final revelei o nome de uma área científica, onde a melhor Universidade Alemã tem uma classificação inferior à de três instituições nacionais, apresenta-se abaixo a lista de todas as áreas científicas e bem assim as instituições a que pertencem essas áreas. Nessa lista é possível constatar que as instituições com mais mérito são a universidade do Minho e a Universidade do Porto, que aparecem cada uma com três áreas científicas. 

Engenharia Civil.........................ULisboa, UMinho e UPorto

Ciência e Tec. Alimentar.............UPorto, Pol. Bragança, UMinho

Engenharia Oceânica.................ULisboa, UPorto

Engenharia Têxtil.......................UMinho

Gestão Hoteleira.........................UALG

E qual será a receita do sucesso das supracitadas áreas científicas nacionais, que foram capazes de alcançar aquilo que prestigiadas universidades alemãs não conseguiram, mesmo dispondo estas últimas de recursos financeiros muito superiores?

Mas se a resposta residir na presença de elevado talento nas supracitadas áreas científicas, como poderá Portugal conseguir reter esse talento, tendo em conta a “guerra” internacional que existe por esse mesmo talento, a qual e ao que tudo indica está cada vez mais feroz ? 

Não é por acaso que o último número da revista da Ordem dos Engenheiros (OE), Nº190, que foi publicado ontem, é dedicado precisamente ao talento, no qual se pode ler, seja no artigo do Bastonário da OE, seja no artigo do presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência, que o grande desafio de Portugal é, e continuará a ser, a retenção de talento.

PS - Sobre a retenção de talento científico no nosso país, recordo novamente a proposta que fiz há vários anos atrás, e que mencionei há pouco tempo neste post aqui https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/11/desta-vez-nao-me-resta-outra.html

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A universidade de Coimbra é a campeã nacional de perda de competitividade científica no ranking Shanghai por áreas

O prestigiado ranking Shanghai por áreas, divulgado ontem, revela que apenas as universidades de Lisboa, Porto, Minho e Algarve, bem como o Politécnico de Bragança, conseguem a proeza extraordinária de possuir áreas científicas entre as 100 mais competitivas a nível mundial: https://www.shanghairanking.com/rankings/gras/2025

U.Lisboa.............5 (perdeu três áreas no top 100 face a 2003)

U.Porto...............4 (quadriplicou o número de áreas no top 100 face a 2023)

U.Minho.............3 (aumentou uma área no top 100 face a 2023)

UALG.................1 (manteve o número de áreas no top 100 de 2023)

Pol. Bragança.....1 (manteve o número de áreas no top 100 de 2023)

Para lá dos parabéns que são devidos à universidade do Porto, pelo seu elevado desempenho, é lamentável que a Universidade de Aveiro, que no ano passado estava representada no Top 100, tenha perdido essa presença; e é também lamentável que várias universidades públicas não tenham conseguido igualar o feito do Politécnico de Bragança. A Universidade de Aveiro tem ainda mais razões para se lamentar, pois foi a instituição nacional que, face a 2024, perdeu mais áreas no top 500 deste ranking. Seja como for, em termos de quebra de competitividade, a campeã nacional é a Universidade de Coimbra, que desde 2019 perdeu quase 60% das suas áreas científicas neste prestigiado ranking.

Declaração de interesses - Declaro que nada tenho contra a universidade de Coimbra, instituição onde estive matriculado (1987-1992) na licenciatura em engenharia civil (que na altura tinha uma impressionante duração média de 14,8 anos) e depois disso também no mestrado (pré-Bolonha). Felizmente, que posso constatar que a referida área da engenharia civil é em 2025 uma das duas mais competitivas daquela universidade no ranking Shanghai. 

PS - O ranking Shanghai por áreas é extremamente importante, porque mostra que existem áreas científicas nas universidades nacionais (e no Politécnico de Bragança) que são tão competitivas a nível mundial que, só por pura ignorância, alguém pode optar por estudar no estrangeiro em áreas onde algumas instituições portuguesas apresentam uma competitividade científica muitíssimo superior. Por exemplo, quem escolha qualquer universidade alemã para ir frequentar um curso na área de Ciência e Tecnologia Alimentar fá-lo apenas e tão somente por ignorar que, nessa área, nenhuma universidade alemã conseguiu entrar no Top 100 do ranking mundial — feito que, em Portugal, é alcançado pela Universidade do Porto, pelo Politécnico de Bragança e pela Universidade do Minho.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Quem são os investigadores que mais contribuíram para o sucesso da universidade acelerada a esteroides

 

https://pachecotorgal.com/2025/09/09/a-universidade-acelerada-por-esteroides/

Há poucos meses atrás, ficou-se a saber que, pela primeira vez na sua história, a Universidade da Beira Interior conseguiu entrar no Top 1000 do prestigiado ranking Shanghai Global — o único a nível mundial que contabiliza prémios Nobel. E, no passado mês de setembro, após uma análise ás publicações indexadas mais citadas daquela instituição, produzidas durante os últimos cinco anos, escrevi que esse resultado se devia, em primeiro lugar, aos investigadores da área de Economia e Gestão, com o triplo do impacto das engenharias e, acima de tudo, aos investigadores (acelerados a esteroides) da área da Medicina, com um impacto dez vezes superior ao das engenharias. Vide post no link supra.

Pois bem, hoje que foram revelados os importantes resultados do ranking Shanghai relativo às 500 áreas científicas, mais competitivas do mundo, fica-se a saber que a minha análise expedita revelou-se bastante premonitória pois aquela universidade consegue colocar duas áreas entre as mais competitivas do mundo, precisamente nas áreas da Gestão e da  Medicina Clínica. Esta última consegue aliás algo que nem a Universidade do Minho nem a Universidade de Aveiro conseguiram  https://www.shanghairanking.com/rankings/gras/2025

Infelizmente, ainda não foi desta que alguma área de engenharia daquela universidade tenha conseguido a proeza de estar representada entre as 500 áreas mais competitivas do mundo. Uma panorama que é radicalmente diferente de outras instituições, como por exemplo a Universidade do Minho, onde as áreas das engenharias são absolutamente dominantes e representam 75% das áreas científicas daquela universidade no referido ranking. 

PS - Faço notar que a metodologia utilizada pelo supracitado ranking Shanghai por áreas sofreu alterações desde o ano passado face aos anos anteriores, quando era baseado apenas em 5 critérios relacionados com publicações e citações, pois agora há novos critérios que contabilizam inclusive o número de investigadores altamente citados e também os lugares de Editor Chefe em revistas científicas internacionais.

domingo, 16 de novembro de 2025

Desta vez não me resta outra alternativa senão defender a catedrática Fortunato

Depois de, por várias vezes, ter criticado a catedrática Elvira Fortunato durante o seu mandato como Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devo agora, por uma questão de justiça e coerência, defendê-la do ataque de que foi alvo na capa do semanário Nascer do Sol, onde foi acusada de receber dezenas de milhares de euros de forma ilegal. 

Divulgo, assim, uma parte do texto que ela enviou a título de direito de resposta ao mesmo semanário:"Existe um protocolo formal...que autoriza expressamente a atribuição de subsídios ou compensações a docentes em regime de dedicação exclusiva, quando provenientes de fundos de projectos de investigação...As verbas recebidas...provêm de financiamentos internacionais competitivos...Essa é uma prática comum em diversas instituições de ensino superior nacionais e europeias, consolidada pelo Regulamento referente ás remunerações adicionais de docentes e investigadores da universidade Nova de Lisboa (DR 879/2019)". 

Recordo que, há vários anos atrás, sugeri que os coordenadores de projetos internacionais recebessem 5% (exactamente a mesma percentagem que é recebida a título de bónus pelos trabalhadores do fisco na cobrança coerciva de impostos) do valor desses projetos, valor esse a deduzir da percentagem de 25% dos encargos gerais que as universidades extraem desses projectos. Este mecanismo não seria apenas um incentivo para aumentar significativamente as candidaturas internacionais — área em que Portugal apresenta um desempenho sofrível, vide imagem que compara o nosso país à Suécia, Suíça, Finlândia e Holanda https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/02/sera-que-os-investigadores-portugueses.html —, mas também uma medida vital para reter os investigadores nacionais mais talentosos, tentando assim que conseguissem resistir à tentação de irem trabalhar para universidades que pagam salários muito mais elevados, pois em Portugal um catedrático no 1º escalão recebe menos do que uma bolsa de pós-doutorado em certas universidades do Norte da Europa, pois ignorar esta realidade e persistir em regras anacrónicas e miserabilistas é perpetuar um círculo de mediocridade e de empobrecimento do nosso país.

Recordo também que, há quase um ano atrás, mais precisamente no dia 30 de Dezembro, recebi um email da FCT notificando-me que um projecto do qual fui investigador responsável, não tinha executado 524,56 euros, exigindo a devolução urgentíssima dessa pequena verba, sob pena da universidade do Minho ter de pagar a totalidade do valor do projecto. Compare-se esse comportamento contraproducente, que desincentiva os investigadores de tentarem poupar na gestão dos seus projectos, com aquilo que sucede na França, onde um cientista galardoado com o prémio Nobel, que visitou a universidade do Minho, revelou que naquele país, os investigadores tem total autonomia para poderem utilizar verbas de projectos que não foram executadas em despesas científicas que achem pertinentes. E compare-se isso com a autonomia que atinge níveis verdadeiramente audaciosos no caso da Agência Alemã que financia a inovação naquele país (Sprind), onde a vontade de cortar na burocracia vai ao ponto de dispensar as equipas que atingiram os objectos a que se propuseram de explicarem como gastaram o financiamento recebido "Successful teams are also not asked to offer any proof of how they spend their money. “The bureaucracy needs to be as minimal as possible,” said Costard" https://sciencebusiness.net/news/r-d-funding/inside-germanys-sprind-innovation-agency-anti-horizon-europe

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Univ. de Lisboa - Uma notícia sobre um 1º lugar que afinal é apenas o 8º lugar nacional


A U.Lisboa divulga no seu site que é hoje "a universidade mais empreendedora de Portugal", (vide notícia acessível no link supra) baseando essa afirmação no facto de aquela ter gerado mais de 1000 startups. Mas se levarmos em linha de conta que a maioria das startups não passam de iniciativas falhadas que desaparecem ao fim de poucos anos, pois não conseguem gerar receitas suficientes nem muito menos captar qualquer investimento, aquilo que realmente pode aferir da capacidade empreendedora de uma instituição é antes o valor médio do montante de investimento efectivamente captado pelas suas startups, que dessa forma demonstram uma capacidade bastante maior de transformar conhecimento em valor económico, revelando processos de incubação, mentoria e transferência de tecnologia mais robustos e eficientes.

Assim apresenta-se abaixo o rácio do maior investimento médio captado por startups, de 10 instituições de ensino superior, onde a ULisboa só consegue aparecer em 8º lugar, com um desempenho apenas ligeiramente melhor do que o Politécnico de Leiria. Na lista merece destaque pela positiva o Politécnico do Porto, cujo desempenho envergonha várias universidades, incluindo a própria universidade de Lisboa. Os rácios foram calculados utilizando os valores que recentemente foram apresentados aqui https://startupportugal.com/wp-content/uploads/2025/11/Portugals-Entrepreneurial-Universities-Ranking25.pdf

1º - U.Nova..............22 milhões de euros de investimento médio captado por cada startup
2º - U.Coimbra.........20
3º - Pol. Porto..........19
4º - ISCTE...............17
5º - U.Minho............14
6º - U.Porto..............12
7º - U.Católica.........12
8º - U.Lisboa...........11
9º - Pol. Leiria...........8
10º - U.Aveiro...........8

Talvez seja chegada a hora das universidades e politécnicos nacionais mais competitivos, copiarem o que se faz numa das melhores universidade europeias, que integra o pódio juntamente com a Univ.de Oxford e a Univ. de Cambridge, no ranking de produçáo das startups mais valiosas (vide relatório Deep Tech 2025), universidade essa que concede licenças sabáticas de 1 ano, aos seus professores e investigadores, que se queiram dedicar à criação de startups https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/04/sera-que-os-estudantes-de-engenharia-da.html  

PS - O contexto supra revela-se particularmente oportuno para evocar o artigo de título "Investimento em Ciência e Prosperidade", da Directora do novel e ambicioso centro de investigação GIMM, que conta com mais de 700 colaboradores, onde aquela afirmou que "a ciência é o melhor investimento que uma sociedade pode fazer" https://expresso.pt/opiniao/2025-11-06-investimento-em-ciencia-e-prosperidade-464085e6

Aditamento em 14 de Novembro - A Vice-Reitora da Universidade do Porto para o empreendedorismo, revelou ao semanário Expresso que naquela universidade há alguns professores que já criaram mais de uma dezena de empresas. E embora não tenha revelado o nome deles, acho muito provável que um desses professores seja o catedrático nada modesto que em Janeiro de 2024 mencionei aqui https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/01/catedratico-nada-modesto-classifica-de.html

terça-feira, 11 de novembro de 2025

The Decline of the Great American Research University

 

https://www.chronicle.com/article/the-decline-of-the-great-american-research-university

In an article published yesterday, Richard Holmes argues that American universities are in the midst of a long-term decline. While these institutions continue to celebrate their scientific achievements and global prestige, Holmes contends that they have failed to confront decades of eroding research quality. He condemns their dependence on standardized rankings and warns that this culture of self-congratulation masks a deeper crisis: the steady loss of Western academic dominance. Holmes further highlights the rapid ascent of Chinese universities, which are increasingly outperforming their Western counterparts in both research output and impact.

I strongly disagree, however, with his dismissal of the Trump-era assaults on academia as a marginal factor. Federal funding cuts, the politicization of curricula, and sustained attacks on academic freedom severely weakened the research ecosystem. Immigration restrictions and travel bans choked the influx of international talent—students and scholars who form the lifeblood of graduate education and innovation. The relentless vilification of “liberal” universities eroded public trust and state investment. Far from being incidental, these political and cultural hostilities amplified structural weaknesses, accelerating the decline in U.S. universities’ global competitiveness.

China’s scientific output has expanded at an unprecedented pace, yet a significant portion of its work remains low-impact and is cited mostly within the country. At the same time, the rise in retractions, “paper mills,” and ethics lapses has exposed serious, systemic problems with research integrity, raising questions about the credibility of some outputs. Compounding these challenges, career and funding systems that reward short-term metrics and publication counts incentivize safe, incremental projects over bold, transformative research, slowing the pace at which Chinese science can achieve groundbreaking, globally recognized innovation.

I agree that China has emerged as a formidable and increasingly assertive competitor in the global research landscape. However, this prominence owes relatively little to its intrinsic scientific competitiveness—as evidenced by its comparatively modest performance in Nobel Prizes, a crucial context that Holmes overlooks. He fails to consider the ratio of science Nobel Awards per million inhabitants between the U.S. and China—a figure in which China ranks below countries such as Argentina, Egypt, and Tunisia. Rather than reflecting the depth of domestic innovation, China’s rise in research stature is driven largely by its exceptional ability to attract top-tier Western scientists, including Nobel laureates, as discussed in a previous post titled “The Persistent Disruption Metric, Nobel Minds, and China’s Long Game” 

PS - Holmes seems to have missed Yasheng Huang’s 2023 book, The Rise and Fall of the EAST (MIT Sloan), which cuts to the heart of China’s rise—fueled by exams, autocracy, stability, and technology—while warning that these very forces could choke innovation, spark social unrest, and derail economic reforms. Chinese innovation is further threatened as young people favor government jobs over startups, while Soviet-era legacies in Chinese universities enforce rigid structures and traditional mindsets that stifle creativity and hinder entrepreneurial thinking https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/06/tech-titans-clash-america-vs-china-in.html

Update after 1 day — The highest foreign interest in this post comes from the USA (14%), Singapore (10%), and Germany (6%).

O jovem doutorado da Univ. de Aveiro que vale infinitamente mais do que o Ronaldo

 

Ainda sobre o post supra, que, ao que consta, terá irritado alguns conhecidos neofascistas — para quem o Ronaldo parece ser o pináculo da criação humana — convém repor a verdade e dar crédito a quem realmente o merece. Se utilizarmos como critério de valor social, nunca se ter sido condenado a uma pena de prisão, então há milhões de portugueses que valem muitíssimo mais do que o Ronaldo, digam lá esses neofascistas o que disserem.

Mas se colocarmos a fasquia bastante mais alta, então aquele jovem doutorado Português, natural da Guarda, cuja empresa criada há 10 anos, detentora de dezenas de patentes e avaliada em 4000 milhões de dólares, que dá emprego a mais de um milhar de pessoas, com salários médios mensais de 3400 euros e que paga bónus de 20% aos trabalhadores que optem por ir viver para o Interior de Portugal, empresa essa que é especialista na utilização da IA para tratamento de dores, tendo já ajudado mais de 600.000 pacientes por esse mundo fora, esse vale em termos sociais, infinitamente mais do que vale o Ronaldo

O CEO Virgílio Bento, não só ajudou a melhorar a saúde de centenas de milhares de pessoas, como também, e ao contrário da maioria dos empresários nacionais, que se limitam a pagar salários mínimos, proporcionou a centenas de pessoas empregos altamente qualificados — daqueles que, habitualmente, só se encontram nos países do Norte da Europa. Ajudou ainda a promover a inovação científica nacional e a inspirar uma geração de jovens cientistas. E fiel às suas origens, não se esqueceu de contribuir para o desenvolvimento económico do Interior de Portugal, que não é uma responsabilidade dos empresários, mas sim uma obrigação constitucional dos Governos (alínea b do nº 2 do Art. 66 da CRP), que, de forma oportunista, infame e velhaca, todos eles têm negligenciado.

PS - Há poucos dias o insigne e supracitado empresário anunciou que irá investir 250 milhões de euros em Portugal e contratar mais algumas centenas de colaboradores https://expresso.pt/economia/empresas/2025-11-03-sword-health-investe-250-milhoes-em-portugal-para-criar-plataforma-mundial-de-inteligencia-artificial-em-saude-cae08a78

domingo, 9 de novembro de 2025

Uma hipótese explicativa relacionada com o livro mais citado da Academia Portuguesa

No inicio do ano de 2023, o humilde dono deste blogue foi convidado para integrar o conselho editorial da revista científica Case Studies in Construction Materials, que é publicada pela editora Elsevier. A maioria dos membros do referido conselho pertence à China, aos EUA e ao Reino Unido, sendo o único conselheiro a representar o nosso país. 

As várias razões para esse convite só quem o fez as pode saber, mas talvez entre elas se inclua o facto de uma pesquisa na conhecida plataforma Scopus, mostrar que no Top 10 dos artigos mais citados dessa revista, que foram produzidos nos últimos 5 anos, a maioria deles pertencer a uma área, relativamente à qual eu sou o primeiro editor de um livro, que se tornou o mais citado dessa área a nível mundial e também o mais citado, de todas as áreas em Portugal, entre os muitos livros que foram produzidos ao longo da última década. https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/02/o-livro-mais-citado-de-portugal.html

sábado, 8 de novembro de 2025

Um Português com uma fortuna máxima mas com uma estatura moral mínima


"...que no currículo já tinha a desonrosa medalha da fuga ao fisco e de ter feito um acordo para evitar uma acusação de violação, conseguiu ainda a proeza de aceitar receber dinheiro sujo, para ajudar a lavar a imagem de um regime inominável, vide as criticas que na altura lhe foram feitas pela Amnistia Internacional e também as acusações de hipocrisia, que lhe foram feitas cá dentro, por um conhecido médico" https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/03/a-ligacao-entre-um-portugues-hipocrita.html

O trecho supra foi retirado de um post do passado mês de Março e elenca o passado pouco brilhante de um famoso artista do pontapé e da cabeçada. Mas como se esse currículo não fosse já suficientemente mau, o referido artista fez o impensável, tendo ontem sido noticia por conta de ter afirmado publicamente que admira um traste de nome Donald Trump https://sicnoticias.pt/especiais/cristiano-ronaldo/2025-11-07-video-os-elogios-de-ronaldo-a-trump-quero-conhece-lo-gosto-de-pessoas-assim-f87d98c2

Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar alguém que tem no currículo 91 acusações, incluindo de falsificação, de extorsão e de abuso sexual ? Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar alguém que está envolvido num escândalo de pedofilia ? Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar quem se recusa a cumprir uma ordem do tribunal, deixando que crianças americanas passem fome ? Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar alguém, obcecado em perseguir imigrantes honestos, que ao contrário do famigerado Donal Trump, nunca cometeram qualquer crime? E que tipo de Português, de moral mínima, traindo princípios de solidariedade nacional, pode elogiar e admirar alguém que mandou deportar centenas dos seus próprios compatriotas, que viviam há dezenas de anos no país de Donald Trump, como por exemplo aquela Portuguesa que lá viveu ao longo de quase 60 anos ? https://www.rtp.pt/noticias/mundo/vivia-nos-eua-ha-57-anos-a-historia-de-uma-portuguesa-deportada_v1695582

Declaração de interesses - https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/ronaldo-versus-attenborough.html

PS - Em 2019 o supracitado artista de moral mínima foi condenado por um tribunal Espanhol a quase 2 anos de prisão por fraude fiscal e condenado também ao pagamento de uma multa de quase 20 milhões de euros. Infelizmente essa pesada condenação não foi considerada motivo suficiente para que lhe fosse retirada a condecoração que recebeu da Presidência da República, muito embora a Lei das Ordens Honoríficas Portuguesas, refira expressamente, que os condecorados devem manter uma conduta irrepreensível que não "atente contra valores éticos", e que não tenham sido condenados por cometerem crimes ! 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O sistema científico nacional está viciado em publicações e isso está a prejudicar as universidades nacionais e a ciência mundial


Como divulguei no post acessível no link supra, em termos de publicações indexadas na base Scopus por milhão de habitantes, em 2009 Portugal ultrapassou a Itália, em 2010 ultrapassou a França, e em 2012 ultrapassou a Alemanha. Logo o país cuja ciência ganhou dezenas de prémios Nobel enquanto Portugal só ganhou um único Nobel há mais de 70 anos. E porém não ficou por aí, em 2021 a vantagem de Portugal sobre a Alemanha subiu para 34% e entretanto essa superioridade alcançou em 2024 uns inacreditáveis 44%. 

Porém e em sentido inverso o número total de publicações indexadas produzidas por investigadores Alemães tem vindo a descer todos os anos desde 2021. E a razão para isso não será certamente falta de competência nem muito menos preguiça. Mais provavelmente estará ligada à denúncia feita por muitos cientistas que o excesso de publicações  a nível mundial está a prejudicar a ciência, vide por exemplo Hanson et al. (2024) ou também o artigo de Horta e Jung (2024)  que constatou não haver investigadores séniores em número suficiente para conseguirem rever tantas publicações, o que leva a que na maior parte das vezes os Editores tenham de convidar jovens investigadores inexperientes, com uma produção cientifica incipiente, que nem sequer chega a meia dúzia de publicações, para fazerem essas revisões. Aliás, se recuarmos ainda mais no tempo, em 2021, Chu & Evans, analisaram 90 milhões de publicações tendo concluído que o referido excesso publicativo é francamente prejudicial à ciência. E nesse mesmo ano um investigador brilhante, Vladen Koltun, titular de um Scopus h-index=87, defendeu até que os investigadores que publicassem em excesso fossem penalizados por isso.

E a supracitada inflação de publicações indexadas ajuda a explicar a queda, ano após ano, no ranking Shanghai por áreas científicas, de todas as universidades Portuguesas, porque só por manifesta ingenuidade científica se poderia esperar que um aumento anormal da quantidade das publicações não levaria inevitavelmente a uma diminuição da sua qualidade (leia-se impacto) e é também por isso que os Alemães optaram por reduzir o número total das suas publicações, apostando antes em conseguir aumentar a "qualidade" das mesmas, ao mesmo tempo que também assim mostram ao mundo a sua vontade de deixar de contribuir para a muito danosa inflação mundial de publicações.  

É claro que como os investigadores nacionais adaptam o seu desempenho aos incentivos institucionais, enquanto não houver mudanças na avaliação de desempenho, que reduzam o anormalmente elevado valor das publicações, e passem a valorizar actividades de revisão e também o impacto científico (o verdadeiro calcanhar de Aquiles da ciência nacional), irão continuar a bater tristes recordes de publicações, mesmo que isso prejudique a competitividade internacional das universidades Portuguesas e a própria ciência mundial. 

Ainda no que respeita ao impacto científico, é pouco rigoroso, pouco científico e até perverso, que nos regulamentos nacionais de avaliação de desempenho, o mesmo seja estimado, de forma indirecta, atrás dos quartis das revistas (leia-se através do seu factor de impacto), pois trata-se de uma opção que foi fortemente desaconselhada por muitos conhecidos investigadores, que denunciaram as manipulações sistemáticas de que o mesmo é alvo, como por exemplo o fizeram os catedráticos Larivière e Sugimoto (2019) ou o supracitado Vladen Koltun, ao invés de ser calculado de forma directa, seja através de citações ou através do h-index, aliás se de há vários anos a esta parte, se tornou prática corrente publicar em Diário da República, editais de concursos públicos para lugares de professores catedráticos, em várias universidades incluindo na UMinho, exigindo valores mínimos de h-index  isso significa que os mesmos já abriram o precedente legal para que a sua utilização se possa também estender aos regulamentos de avaliação de desempenho. 

PS - Curiosamente, há um tipo particular de publicações académicas em relação ao qual Portugal não tem sido capaz de evidenciar um desempenho acima da média: os livros. A pequena Universidade de Oxford consegue produzir, todos os anos, mais livros indexados do que todas as universidades e politécnicos portugueses juntos, públicos e privados.

domingo, 2 de novembro de 2025

Presidente da CITE - "O trabalho suga-nos! Suga-nos tudo. Está a sugar as nossas vidas."


As palavras que utilizei para título deste post foram retiradas de um interessante artigo publicado na revista VISÃO, que tem como autora, Carla Tavares, jurista e presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego. No mesmo artigo ela escreve também que "É impensável que, com todo o avanço tecnológico nos conformemos enquanto sociedade, em continuar a ter as mesmas oito horas diárias de trabalho, ou mais..."

Mas, se ao menos ela tivesse lido as crónicas no Expresso, do catedrático e Presidente da EEG da UMinho Luís Aguiar-Conraria — como a que foi publicada online no passado dia 9 de outubro, em que ele mencionou vários estudos sobre a IA que confirmaram aumentos brutais de produtividade — poderia ter sido mais explícita ao substituir a vaga expressão “avanço tecnológico” por “aumentos brutais de produtividade decorrentes da utilização da IA

Seja como for, o facto dos tais avanços tecnológicos permitirem actualmente a mais de um milhão de Portugueses poderem estar em teletrabalho, é algo que merecia um mínimo de reconhecimento pela autora do artigo, pois quanto mais não fosse e como divulgou no mesmo semanário Expresso um conhecido catedrático da LSE, a ciência mostra que nos casais que estão em teletrabalho a "fertilidade dispara". https://pachecotorgal.com/2025/01/20/alcancar-um-circulo-virtuoso-para-portugal-com-a-receita-tnn-que-um-catedratico-da-lse-nao-foi-capaz-de-enxergar/

PS - Infelizmente, existe algo ainda mais cruel do que um trabalho que suga tudo: é um trabalho que suga tudo e, ainda assim, não é suficiente para cobrir as despesas básicas.

sábado, 1 de novembro de 2025

The Rise of AI-Driven Manipulation and the Urgent Need to Recalibrate Ethics and Integrity as Core Academic Values

 

Nearly two years ago, I commented on an article published in The Economist (linked above) that explored the potential for artificial intelligence to interfere with electoral processes through fabricated videos of politicians. I reflected on how this emerging reality could profoundly transform the core mission of academia, shifting its emphasis from traditional priorities such as teaching and scholarly publications toward activities centered on assessment, curation, and mentoringJust yesterday, Politico reported that AI-driven deepfakes have now made a tangible impact on European elections. In Ireland, a manipulated video falsely depicted presidential candidate Catherine Connolly withdrawing from the race, while in the Netherlands, far-right politicians employed AI-generated images to tarnish and discredit their political opponents. https://www.politico.eu/article/elections-europe-ai-deepfakes-social-media/

Notably, two years ago, AI-generated Sora videos were purely hypothetical. What once existed only as a theoretical danger now moves openly in the world. The launch of Sora for ChatGPT Plus and Pro on December 9, 2024 — followed by the public release of its successor, Sora 2, on September 30, 2025 — did more than introduce a new AI tool; it unleashed a technology capable of reshaping reality itself. That shift is not incremental — it is tectonic. The availability of Sora 2 as a platform for generating deepfakes turns disinformation from a slow-burning threat into an immediate, scalable weapon. What were once abstruse academic warnings have metastasized into an urgent crisis: manipulated media now routinely corrodes public trust, warps political debate, and weaponizes appearance itself. These developments have remade the battlefield of truth, dramatically accelerating the risks of disinformation and political interference and forcing us to confront consequences once dismissed as hypothetical.

For academia this is an existential moment — an invitation to lead. Institutions must stop treating ethics as an afterthought and start treating it as infrastructure. Curricula, research priorities, and reward systems must be recalibrated toward detection, curation, mentoring, and public literacy. In the emerging era of synthetic media, ethics and integrity are no longer peripheral virtues — they are the currency by which scholars buy credibility, influence, and access to funding. Those who can reliably identify, contextualize, and counteract AI-driven deception will become the new gatekeepers of moral authority: custodians of a scholarly practice where intellectual rigor is meaningless unless paired with ethical accountability.

Update after 1 day — Foreign readers from Germany (30%), the USA (25%), and Singapore (7%) show the greatest interest in this post.