domingo, 28 de dezembro de 2025

"Felizmente nenhum dos nossos alunos quer ir trabalhar para a função pública"



No passado dia 24 de Dezembro, divulguei o caso singular do professor catedrático que arrasou, de alto a baixo, o sistema de educação Português, vide post acessível no link supra. O referido catedrático foi entretanto entrevistado pelo jornal Público e, dessa longa e provocadora entrevista — hoje publicada na edição impressa do jornal — destaco abaixo algumas declarações na esperança de que despertem a curiosidade para a leitura integral da entrevista referida: 

"Felizmente nenhum dos nossos alunos quer ir trabalhar para a função pública"

"Os dois primeiros alunos que acabaram o programa eram um engenheiro electrotécnico...e um estofador da Autoeuropa que tinha o 12.º ano"

"Esta escola tem, literalmente, o padeiro sentado ao lado do médico."

"Temos universidades e politécnicos que têm taxas de desemprego à saída de 30% ou de 50%"

"É claro que os senhores reitores queriam que nós desaparecêssemos porque isto para eles é um irritante" https://www.publico.pt/2025/12/27/sociedade/entrevista/educacao-sistema-sovietico-planeamento-central-experimentado-urss-produzir-pao-nao-funcionou-2159088

É importante salientar — algo que infelizmente o catedrático Pedro Santa Clara não fez — que a proposta educativa em questão apresenta várias vantagens enquanto modelo complementar de educação, mas não constitui uma solução universal ou milagrosa. Porém este modelo não permite formar profissionais cuja atuação exige uma sólida formação científica, como cientistas, engenheiros ou médicos, nem aqueles cujas profissões requerem formação prática intensiva e certificada, como mecânicos, eletricistas, carpinteiros, serralheiros, canalizadores ou técnicos de manutenção. De qualquer forma, a academia não tem a menor razão para se mostrar complacente, e muito menos para subestimar os enormes desafios actuais, pois num post anterior do passado dia 27 de Maio, escrevi: "hoje mesmo o catedrático jubilado Robert Reich, ter defendido no seu blogue, que muitos dos empregos do futuro não necessitarão de uma formação de ensino superior"A isso soma-se ainda o facto do último número da revista The Economist revelar que a geração Z demonstra um interesse crescente por profissões técnicas e muito menos por formações académicas. https://www.economist.com/international/2025/12/18/ditch-textbooks-and-learn-how-to-use-a-wrench-to-ai-proof-your-job

PS - A mim, pessoalmente, enquanto primeiro signatário de uma petição contra a endogamia que protagonizei há 10 anos atrás, fico satisfeito pelo facto dele não se ter esquecido de mencionar aquele que é o "calcanhar de Aquiles" da academia Portuguesa (Catedrático Orlando Lourenço dixit).

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

My latest publication on the ideological and philosophical foundations of bibliometrics by Gorraiz, J. (University of Vienna)


Highlights:

  • Critically challenges Gorraiz’s metaphorical framing of bibliometrics for neglecting empirical validation and operational applicability.
  • Demonstrates that citation metrics, when properly calibrated, have strong predictive validity—e.g., Clarivate’s Citation Laureates correctly anticipating 89 Nobel Prize winners.
  • Highlights economic and logistical advantages of bibliometrics over costly peer review systems such as the UK REF, which exceeds £250 million per cycle.
  • Uses the Portuguese case to reveal persistent reliance on quantitative heuristics even in formally metric-free assessments, exposing a gap between policy and practice.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1751157725001269?dgcid=author

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

FMI envia missão a Portugal para analisar caso muito raro de produtividade extrema


A TVI noticiou recentemente a descoberta de mais dois médicos milionários, desta vez no Hospital de Castelo Branco (notícia no link supra). O mais curioso é que esses médicos, pai e filho, conseguiram a proeza de produzir mais durante as horas extraordinárias do que no horário normal — algo realmente surpreendente, considerando que o horário habitual ocupa a maior parte da jornada de trabalho. Trata-se de um fenómeno de produtividade tão raro que, quando chegar ao conhecimento do FMI, é certo e seguro que logo enviarão uma missão especial para estudá-lo, na esperança de extrair lições capazes de revolucionar a produtividade mundial, o que levará o nosso país à capa da revista The Economist. 

Seja como for, a descoberta de médicos milionários num hospital do Interior constitui uma excelente notícia para a classe médica, pois, a partir de agora, os membros dessa classe já não precisam de continuar a pagar autênticas fortunas em habitação em Lisboa, onde se pensava ser o único sítio onde os médicos se podiam tornar milionários. Afinal, agora que se sabe que também é possível alcançar essa condição extravagante em hospitais do Interior, onde esses profissionais — que, se trabalhassem em Lisboa, teriam de desembolsar quantias astronômicas apenas para comprar um modesto apartamento de tamanho médio — podem construir uma moradia verdadeiramente colossal, â altura da sua milionária condição.

PS - Aquilo que TVI não divulgou na sua noticia, é que um dos referidos médicos, agora director naquele hospital, num lugar que já tinha sido ocupado pelo seu pai, fez no ano passado uma queixa à ERC, porque consta terá ficado muito indignado com uma notícia de título "Utente diz-se destratado por médico”, relacionada com um doente com cancro que terá recusado o tratamento que lhe terá sido proposto. Após a análise dos factos a ERC deliberou não dar razão ao médico milionário  https://www.erc.pt/document.php?id=NDVhZDZiOTctYmFmNC00ODRjLWE5NzktYzc1Njk1MjFhZTg2

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Os professores catedráticos Portugueses que possuem uma métrica de citações superior à de alguns prémios Nobel


A Clarivate Analytics decidiu remover da sua lista anual da HCRs, investigadores que tinham milhares de publicações indexadas, porque segundo aquela isso indica comportamento pouco ético, pois não é plausível acreditar que haja investigadores possuidores de super-poderes de publicação, como eu já tinha denunciado em 2021 aqui  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/03/how-many-papers-can-superscientist.html

Curiosamente há vários anos atrás sugeri que analisando o rácio de publicações totais pelas altamente citadas, seria fácil perceber esses evidentes desvios estatísticos, o que na altura concretizei através de uma lista com mais de uma centena de investigadores. Na mesma foi possível constatar que  somente os prémios Nobel, que ao contrário dos tais investigadores com super-poderes, não publicam muito, é que conseguem apresentar elevados valores desse rácio e ainda mais interessante foi constatar que há alguns catedráticos portugueses que conseguem ter um rácio superior ao de vários vencedores de um prémio Nobel, vide lista infra https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/05/ranking-de-investigadores.html

Caetano Reis e Sousa (Francis Crick Inst)........37%
Nobel Brian Kobika............................................33%
Nobel Peter Agre................................................32%
Pedro Santa Clara (U.Nova de Lisboa)..............32%
António Damásio (U. Southern California).........32%
Miguel. B. Araújo (CSIC)....................................30%
Nobel James Rothman.......................................29%
Nobel Gregory Winter..........................................29%
Nobel Arthur Ashkin............................................29%
Nobel Konstantin Novoselov...............................26%

PS - Por uma estranha coincidência um desses catedráticos, Pedro Santa Clara, que que recentemente foi notícia por conta de um prémio que muitos consideram o Nobel da Educação (WISE Prize for Education), deu uma longa, interessante e impiedosa entrevista ao semanário NascerdoSol, onde arrasa o sistema de ensino Português, não só ao nível do ensino básico e secundário, mas também e particularmente no ensino superior, onde nem sequer a formação médica escapou ao demolidor exercício do referido catedrático. 

sábado, 20 de dezembro de 2025

Letter to the Editor-in-Chief: A Call to Reform Retraction Practices That Disproportionately Penalize Early-Career Researchers

 

Below is part of my letter to the Editor of the Journal of Informetrics, commenting on Han et al. (2025):

Han et al. (2025) offer a detailed quantitative examination of Chinese medical researchers with retracted publications from 20 leading hospitals, analyzing author characteristics, retraction drivers, and career consequences. Comparing retracted researchers to matched non-retracted peers, the study uncovers distinct patterns across career stages: early-career researchers with retractions underperform academically, experience steep declines in citations, reduced collaboration, and limited career mobility, whereas senior retracted researchers maintain high productivity, influence, and expansive collaboration networks, reflecting cultural and institutional leniency. Probit regression demonstrates that output-driven incentives, such as rapid increases in publication and citation rates, raise retraction risk, while broader collaboration networks mitigate it. Institutional peer pressure exerts minimal influence. Strikingly, retractions due to scientific errors result in harsher professional penalties than those caused by misconduct, including larger citation and collaboration losses, challenging prior assumptions that fraud is most damaging. Using a difference-in-differences framework, the study quantifies these impacts, highlighting early-career researchers’ disproportionate vulnerability. 

However, Han et al. could have advanced a stronger and more explicit critique of the current retraction system. The prevailing practice of treating all retractions as equivalent poses a serious challenge to both scientific integrity and fairness within the academic ecosystem. In its present form, retraction functions as a blunt instrument, failing to distinguish between fundamentally different causes and intentions underlying a paper’s withdrawal. A single undifferentiated category is used to encompass acts of deliberate misconduct—such as fabrication, falsification, or plagiarism—as well as inadvertent methodological errors, miscalculations, or oversights in data interpretation. 

This lack of differentiation collapses essential distinctions between ethical violations and honest mistakes, often leading to disproportionate and unjust outcomes that unnecessarily damage the careers and reputations of researchers acting in good faith. Retractions can have profound and lasting consequences for scientific careers, extending well beyond the immediate withdrawal of the paper in question. Evidence shows that a retraction can reduce not only citations to the retracted work but also to the authors’ prior publications, generating long-term negative effects on scholarly reputation, particularly when authors do not proactively disclose or self-report the error (Lu et al., 2013). In general, retractions are associated with significant declines in citation counts, and even those resulting from honest mistakes can lead to severe reputational penalties for scientists (Azoulay et al., 2017). 

Although many retractions arise from genuine errors, public perception often equates them with misconduct or fraud, creating a pervasive stigma (Behavior, 2021). This fear of reputational damage can discourage researchers from correcting the scientific record, potentially driving talented and conscientious scientists out of academia. Retractions thus function as a form of stigma that can call into question both a researcher’s professional competence and ethical integrity, irrespective of whether the underlying issue was inadvertent. Studies have highlighted that retraction notices themselves can communicate this stigma, shaping reputational outcomes within the scientific community (Xu & Hu, 2022). 

Moreover, recent empirical work demonstrates that retractions often attract intense attention, which can precipitate departures from scientific careers, disproportionately affecting researchers whose work is under greater public scrutiny. In addition, the structure of citation and collaboration networks is typically altered following a retraction, further amplifying the long-term consequences for the affected authors (Memon et al., 2025). The consequences of this undifferentiated approach are multifold. At the individual level, researchers who make genuine mistakes face severe professional penalties, including sharp reductions in citations, collaborative opportunities, and career mobility, regardless of the absence of any malicious intent. 

Early-career scientists are particularly vulnerable, as their networks and reputations are still nascent, making them less able to absorb the shock of a retraction. At the systemic level, the conflation of misconduct with honest error can discourage transparency and self-correction. If admitting an error is effectively indistinguishable from being labeled dishonest, researchers may avoid reporting mistakes, and journals may hesitate to issue corrective notices. The resulting culture of fear inhibits the epistemic process: science thrives on error detection and correction, yet this vital mechanism becomes stigmatized, undermining the reliability of the scientific record. 

Therefore, implementing a principled retraction typology could provide a practical and thoughtful solution to this problem. A typology would categorize retractions according to the underlying cause, differentiating between intentional misconduct, gross negligence, honest error, and procedural or editorial issues. By making the reasons for retraction explicit and transparent, this system would allow the scientific community, funding bodies, and the public to interpret the significance of a retraction accurately. 

Intentional misconduct would remain clearly marked and appropriately stigmatized, preserving accountability and maintaining trust in scientific norms. Meanwhile, honest errors could be framed as part of the self-correcting nature of science, with minimal damage to the researcher’s reputation and career trajectory. Insights from legal and penal frameworks can provide valuable guidance in designing a fair and effective system for scientific retractions. Just as criminal law carefully distinguishes between intentional crimes, negligence, and accidents, academic corrections should likewise differentiate deliberate misconduct from honest mistakes. 

In legal systems, penalties are proportionally scaled according to factors such as intent, the harm caused, and the foreseeability of the outcome, ensuring both fairness and accountability. For example, deliberate fraud is met with severe punishment, whereas acts of negligence or inadvertent error typically result in milder sanctions or corrective measures. Translating these principles to academic publishing suggests that a structured retraction typology could clarify distinctions between different types of retractions, providing transparency and proportionality in response to the underlying cause.

Level 1 – Malicious Intent: Fraudulent Retraction
  • Fabrication: Making up data or results and presenting them as genuine.
  • Falsification: Manipulating research materials, equipment, processes, or data such that the research record is misrepresented.
  • Plagiarism: Appropriating another person’s ideas, processes, results, or words without proper attribution, including verbatim or near-verbatim copying that materially misleads regarding the author’s contributions. This excludes limited use of standard methodological phrasing, text recycling (self-plagiarism), or authorship/credit disputes.

Level 2 – Negligence: Negligent Retraction

  • Errors resulting from inadequate methodology, oversight, or carelessness, without intent to deceive. Examples include flawed experimental design or mismanaged data that do not constitute deliberate misconduct.

Level 3 – Honest Mistake: Corrective Retraction

  • Errors occurring despite reasonable care, such as miscalculations, data handling mistakes, or unforeseen methodological limitations.
  • Self-plagiarism, depending on the extent of text overlap.

Regarding the inclusion of self-plagiarism as a Level 3 (honest mistake), several clarifications are warranted. Although self-plagiarism is frequently framed as an ethical violation, concerns surrounding it appear overstated. Callahan (2014) argues that self-plagiarism has been inflated into a perceived crisis despite limited evidence that it meaningfully harms the scholarly record. Editorial approaches vary widely: some journals impose rigid similarity thresholds (e.g., 10%), while others suggest that the reuse of even a sentence or paragraph may be unethical. Such absolutist interpretations overlook standard scholarly practices, including the iterative development of ideas, the reuse of methodological descriptions, and the repetition of theoretical frameworks for clarity and continuity. Crucially, unlike traditional plagiarism, self-plagiarism involves the reuse of one’s own previously published material and does not entail deception regarding authorship. Moreover, major institutional frameworks—such as MIT’s Procedures for Dealing with Misconduct in Research and Scholarship—do not classify self-plagiarism as research misconduct, underscoring its secondary ethical status. Treating self-plagiarism as a moral failing risks diverting attention from genuinely serious violations, such as fabrication or falsification, while penalizing routine academic practices. From an ethical standpoint, self-plagiarism should merit retraction only when it reaches clearly excessive levels—typically above 30% of textual overlap—and when such reuse undermines the novelty of the work or materially distorts the scholarly record. Below this threshold, concerns are more appropriately addressed through transparency, citation, or editorial correction rather than punitive measures. Overemphasis on minor textual overlap risks fostering compliance anxiety rather than promoting substantive ethical integrity.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Irei intentar uma acção contra o Estado Português para que me pague 10.000 euros

 

Tendo em conta que a Universidade do Porto não recorreu para o Supremo Tribunal Administrativo, da sentença de anulação, relativa ao concurso que divulguei no post acessível no link supra e que por conta disso essa sentença transitou em julgado, é por isso chegada a hora de intentar uma nova acção, desta vez contra o Estado Português, para que me indemnize pela demora excessiva que os tribunais levaram para anular este concurso.

PS - Espero que a Univ. do Porto não demore a pagar-me a quantia que gastei em taxas de justiça e que aquela instituição terá agora que liquidar por conta da sentença lhe ter sido desfavorável. Faço também votos que, doravante, aquela universidade (e outras) apenas convoque para jurados de futuros concursos, quem nunca tenham participado em concursos anteriores que foram anulados por violação da lei. Aliás, deveria ser criada uma lista pública, contendo os nomes de todos os catedráticos, que se encontrem nessa condição.

domingo, 14 de dezembro de 2025

Uma crítica suave ao Presidente da DST

 

Em termos de artigos interessantes, a secção de economia da última edição do semanário Expresso, não trazia apenas o tal artigo que tive oportunidade de comentar no post de título "Os engenheiros inúteis e o catedrático que insiste na eliminação do IRS e do IRC" acessível no link supra, trazia também um outro contendo declarações do iluminado Presidente do Grupo DST, que reconheça-se é uma louvável excepção à esmagadora maioria dos empresários Portugueses e não é unicamente pela sua apologia do capitalismo popular. 

Infelizmente, nas suas declarações sobre aqueles que são os materiais para o futuro da construção, não há uma única palavra sobre resíduos e a importância crucial da economia circular em resultado da estratégia definida pela União Europeia. Seja no respeitante à obrigação da industria da construção ter de valorizar os seus próprios resíduos, pois o Eurostat revela que esta industria é responsável pela maior parcela dos resíduos por actividade económica https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Waste_statistics  seja também na extraordinária capacidade que a mesma tem de conseguir valorizar resíduos de várias outras industrias, através da sua incorporação no betão, o material que é o mais utilizado no Planeta (com um consumo de dezenas de milhares de milhões de toneladas) e que vai continuar a ser o mais utilizado, ao longo das próximas décadas. 

Declaração de interesses - Declaro que, há um ano atrás produzi comentários bastante favoráveis sobre o supracitado material betão, possuidor de uma excelente relação desempenho/custo e com um pegada carbónica cada vez menor, sendo um material que é absolutamente insubstituível em muitas aplicações  https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/10/seculo-xxi-o-seculo-da-inteligencia.html

sábado, 13 de dezembro de 2025

Os engenheiros inúteis e o catedrático que insiste na eliminação do IRS e do IRC


Na secção de economia da última edição do semanário Expresso o catedrático da prestigiada LSE, Ricardo Reis, escreveu sobre as virtudes de subir impostos sobre o consumo, como moeda de troca para eliminar o IRS e o IRC, já que segundo ele, é mais fácil, eficaz e eficiente taxar o consumo em vez dos rendimentos. Além do que acrescentou ele "O imposto sobre o consumo deixa de fora as poupanças...protege a acumulação de capital humano e físico que se exige numa economia do conhecimento" https://expresso.pt/opiniao/2025-12-11-taxar-o-consumo-454ef1ba

Faço notar que em 2020 o referido catedrático já tinha escrito exactamente sobre o mesmo tema, tendo eu na altura comentado o seu artigo aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/09/uma-proposta-radical-para-acabar-com-o.html o que mostra não só uma coerência que consegiu resistiu ao passar dos anos mas também uma vontade indómita de convencer os seus leitores sobre a validade e a bondade da medida referida. 

Pessoalmente, confesso que fiquei convencido logo em 2019, quando li um artigo do agora catedrático da Universidade do Minho, Luís Aguiar-Conraria, que nesse ano escreveu sobre a ineficiência dos impostos sobre os rendimentos e sobre a hipótese de aumentar substancialmente o IVA para permitir a eliminação do IRS e do IRC https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/09/acabar-com-o-irsparte-2.html

Uma coisa é certa porém, apesar das muitas virtudes que a medida supracitada possa apresentar, ela não consegue resolver, no curto prazo — e, no longo prazo estamos todos mortos (Keynes dixit) — o gravíssimo problema que o famoso catedrático Thomas Piketty descreve numa entrevista publicada ontem no site da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, que é o privilégio infame das grandes fortunas que não pagam impostos, advertindo que isso foi exactamente o que sucedeu na França há alguns séculos atrás, e que terminou, como se sabe, com abundante derramamento de sangue. https://aepet.org.br/noticia/thomas-piketty-estamos-em-uma-situacao-semelhante-a-que-levou-a-revolucao-francesa-2/

PS - Alguns, em Portugal, poderão questionar a pertinência de uma associação brasileira, representativa de milhares de engenheiros, se envolver num tema que, à primeira vista, parecer interessar sobretudo a fiscalistas e economistas. Tal posição, porém, revela desde logo um desconhecimento do que estabelecem os Estatutos da Ordem dos Engenheiros Portuguesa, onde, logo no n.º 1 do artigo 4.º, se afirma que “a Ordem tem como escopo fundamental contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade...”. Ora, é evidente que não pode haver verdadeiro desenvolvimento sustentável quando apenas alguns pagam impostos — e, mais grave ainda, quando são precisamente os detentores das maiores fortunas aqueles que, proporcionalmente, menos contribuem para o esforço coletivo. É, por isso, particularmente meritória a iniciativa dos referidos Engenheiros Brasileiros, ao envolverem-se num tema crucial, que no mínimo dos mínimos faz prova que muitos engenheiros brasileiros não vivem numa bolha hermética, desligados dos grandes problemas que preocupam o cidadão comum. Isto já para não falar, que há quem, como um conhecido professor catedrático de estruturas da Universidade Nova de Lisboa, aposentado há vários anos e com quem troquei centenas de emails ao longo de quase duas décadas, seja muito critico sobre os engenheiros que vivem na sua bolha de engenharia, e que ele de forma muito pouco simpática e até bastante ácida apelida de inúteis  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/10/universidade-nova-de-lisboa-quem-nao.html

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Ciência mostra como é que Portugal pode reduzir um elevadíssimo prejuízo anual de 10.000 milhões de euros


Na sequência do post supra dedicado aos quase um milhão de Portugueses que estão em teletrabalho, aproveito para divulgar um estudo recente que foi publicado na revista científica Social Science &Medicine, que concluiu que o teletrabalho contribui para reduzir problemas de saúde mental, tendo os "maiores benefícios" sido detectados em mulheres, cujo trabalho remoto tenha uma duração mínima entre 50% a 75% do tempo de trabalho semanal   https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277953625011438

Essa descoberta é especialmente importante para o nosso país, que infelizmente este ano foi noticia pelo facto de se ter ficado a saber que no respeitante a problemas de saúde mental consegue ter o pior resultado entre todos os países da OCDE e também porque como já se tinha ficado a saber, num outro relatório anterior, o peso financeiro dos referidos problemas de saúde mental foi estimado em cerca de 10.000 milhões de euros por ano https://health.ec.europa.eu/system/files/2024-01/2023_chp_pt_portuguese.pdf

Assim sendo, e quanto mais não fosse pelas razões supracitadas, já seriam aquelas suficientes para que o nosso país aspirasse a ter uma estrutura económica baseada em empresas de alta tecnologia, similar à dos países Nórdicos, que lhes permitem ter percentagens de teletrabalho superiores às de Portugal. Aliás, neste contexto particular, vale a pena recordar o caso inspiracional da tal empresa que vale mais de 8000 milhões, emprega mais de 1000 cientistas, incluindo em Portugal e que tem sede no Zoom https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/05/a-empresa-que-vale-mais-de-8000-milhoes.html

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Conseguir alcançar 104 milhões de euros: Será que a UBI está realmente de parabéns ?


A universidade da Beira Interior acaba de divulgar que  está no 19.º (décimo nono) lugar no Ranking das Universidades Empreendedoras de Portugal, por conta do facto de ter 66 (sessenta e seis) startups fundadas por Alumni, que conseguiram cerca de 104 milhões de euros em investimento e financiamento. https://www.ubi.pt/Noticia/8142

Porém, daquela universidade que em 2025 se conseguiu tornar na 7ª (sétima) cientificamente mais competitiva, como foi demonstrado pela sua entrada, pela primeira vez na sua história, para o prestigiado ranking Shanghai, proeza essa que muito se ficou a dever ao elevado desempenho dos investigadores de medicina e de gestão, muito dificilmente se esperaria que também conseguisse estar entre os primeiros 7 lugares do ranking das universidades nacionais mais empreendedoras, objectivo impossível de alcançar com um reduzido valor de apenas 104 milhões de euros, pois convém ter presente que nos sete primeiros lugares do referido ranking estão universidades, cujas startups conseguiram ultrapassar a marca dos 1000 (mil) milhões de euros em investimento e financiamento.  

A dura realidade é que um financiamento total de 104 milhões de euros distribuídos por 66 startups dá um valor médio de apenas 1.6 milhões de euros, abaixo daquilo que é o desempenho do Polit. de Leiria e muitíssimo abaixo do desempenho do Polit. do Porto https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/11/univ-de-lisboa-uma-noticia-sobre-um-1.html

domingo, 7 de dezembro de 2025

EU predicts AI supremacy online in 2026 and human writing pushed to the margins

 

https://pancouver.ca/more-than-half-of-new-articles-on-the-internet-are-being-written-by-ai-is-human-writing-headed-for-extinction/

The article referenced above, authored by Francesco Agnellini from Binghamton University and published yesterday, cites a recent study conducted by Graphite. This study analyzed over 65,000 randomly selected articles and reports that, as of 2025, more than 50% of newly published English-language web content is generated by AI. Notably, as early as 2022, the European Union projected that as much as 90% of online content may be synthetically generated by 2026, indicating that this prediction was remarkably prescient https://op.europa.eu/en/publication-detail/-/publication/b844aa2b-dbd4-11ec-a534-01aa75ed71a1/language-en 

It is crucial to emphasize that the Graphite study may underrepresent the true prevalence of AI-generated content online. This underestimation stems both from the relatively small sample size and from limitations in detection tools, which can misclassify human-authored articles assisted by AI as purely human-written. Let us not forget that, just nine months ago, Dirk Spennemann, in his study, estimated that 30–40% of online content is AI-generated, highlighting the rapid proliferation of synthetic text. Taken together, these observations suggest that the actual share of AI-influenced content may be considerably higher than reported. 

Agnellini’s article is significant because it highlights a paradox at the heart of today’s digital landscape: while AI increasingly saturates the web with unprecedented volumes of text, what may become rarer—and consequently more valuable—are the authentic human voice, genuine originality, and intentional stylistic expression. His reflections rightly underscore the dangers of eroding creativity, diversity, and the singularity of human expression. Yet they neglect a more alarming danger: the spiraling loop of AI-generated content feeding upon itself. This self-referential drift raises a critical question: if what we call “originality” becomes increasingly absorbed into algorithmic patterns and human creativity slowly recedes into the background, must we not ask whether the internet will continue to embody the human condition—or whether it is evolving into a reflective surface that reveals nothing but machines interpreting themselves?

Update after 3 days — The highest foreign interest in this post comes from the USA (29%), Germany (9%), and Finland (3%).

Universidades e Politécnicos conseguem finalmente igualar a Universidade de Oxford, mas isso ainda é muito insuficiente


A imagem supra mostra a produção anual percentual de livros académicos de todas as universidades e politécnicos Portugueses, selecionados para indexação na conhecida plataforma Scopus, comparativamente aos livros indexados produzidos na pequena Universidade de Oxford. Os resultados revelam que Portugal necessitou de uma década e meia para conseguir subir de uma percentagem terceiro mundista de apenas 30% até finalmente conseguir igualar a produção daquela conhecida universidade inglesa.  

Quem está de parabéns — como se evidencia no ranking reproduzido abaixo, que apresenta as instituições mais (e menos) produtivas ao longo da última década e meia — são a Universidade de Aveiro e a Universidade do Minho, pois a sua produção ponderada, tendo em conta o respetivo número de ETIs, ultrapassa de forma expressiva os rácios da Universidade de Lisboa e da Universidade do Porto. Estão igualmente de parabéns vários Institutos Politécnicos, que de forma bastante meritória exibem um desempenho superior ao de diversas universidades. E merecem também destaque os professores e investigadores da área da engenharia, cuja produção representa quase 30% de todos os livros indexados.

Tendo, porém, em conta que que a soma de todos os professores e investigadores das universidades e politécnicos de Portugueses é mais do dobro do número de professores e investigadores da universidade de Oxford, isso significa que as universidades e politécnicos Portugueses, tem a "obrigação" de conseguir produzir o dobro dos livros indexados produzidos por aquela universidade inglesa (vide excepção mencionada no post scriptum), nem que para isso seja preciso esperar mais uma década e meia. Para o efeito, é necessário que, dediquem menos energias a publicações avulsas, de relevância e impactos nulos, que como demonstrei em posts anteriores, já produzem em notório excesso.  

Ranking de produção total de livros indexados entre 2010 e 2024
1 - U.Lisboa..............404 
2 - U.Aveiro...............269
3 - U.Minho...............239
4 - U.Porto................234
5 - U.Nova................195
6 - U.Coimbra...........194
7- ISCTE...................101
8 - I.P.Porto.................64
9 - UBI........................51
10 - U.Évora...............48
11 - U.Católica............46
12 - UALG..................42
13 - IPCA....................37
14 - UTAD..................32
15 - U.Aberta..............26
16 - I.Pol. Leiria..........25
17 - U.Lusófona..........23
18 - I.Pol. Coimbra.....16
19 - U.Madeira...........15
20 - I.P.Setúbal...........13
21 - I.P.Bragança........13
22 - U.Açores.............13
23 - I.P.Lisboa.............11
24 - I.Pol. Viseu..........10
25 - I.P. V. Castelo........9
26 - I.Pol. Portalegre....5
27 - I.Pol. Tomar...........5
28 - U.F. Pessoa...........5
29 - I.P. Guarda............5
30 - I.P. C. Branco........5
31 - I.P. Beja.................2

PS - Quando se olha apenas para os livros indexados, produzidos nos últimos três anos, na área da I.Artificial (amostra essa que não por acaso é liderada pela universidade do Minho) constata-se que as universidades e politécnicos Portugueses já conseguem duplicar a produção da universidade de Oxford, mas essa honrosa excepção talvez se fique a dever à hipótese que formulei num post destinado somente aos meus muitos leitores estrangeiros https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/11/the-deepening-roots-of-portuguese.html