domingo, 16 de novembro de 2025

Desta vez não me resta outra alternativa senão defender a catedrática Fortunato

Depois de, por várias vezes, ter criticado a catedrática Elvira Fortunato durante o seu mandato como Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devo agora, por uma questão de justiça e coerência, defendê-la do ataque de que foi alvo na capa do semanário Nascer do Sol, onde foi acusada de receber dezenas de milhares de euros de forma ilegal. 

Divulgo, assim, uma parte do texto que ela enviou a título de direito de resposta ao mesmo semanário:"Existe um protocolo formal...que autoriza expressamente a atribuição de subsídios ou compensações a docentes em regime de dedicação exclusiva, quando provenientes de fundos de projectos de investigação...As verbas recebidas...provêm de financiamentos internacionais competitivos...Essa é uma prática comum em diversas instituições de ensino superior nacionais e europeias, consolidada pelo Regulamento referente ás remunerações adicionais de docentes e investigadores da universidade Nova de Lisboa (DR 879/2019)". 

Recordo que, há vários anos atrás, sugeri que os coordenadores de projetos internacionais recebessem 5% (exactamente a mesma percentagem que é recebida a título de bónus pelos trabalhadores do fisco na cobrança coerciva de impostos) do valor desses projetos, valor esse a deduzir da percentagem de 25% dos encargos gerais que as universidades extraem desses projectos. Este mecanismo não seria apenas um incentivo para aumentar significativamente as candidaturas internacionais — área em que Portugal apresenta um desempenho sofrível, vide imagem que compara o nosso país à Suécia, Suíça, Finlândia e Holanda https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/02/sera-que-os-investigadores-portugueses.html —, mas também uma medida vital para reter os investigadores nacionais mais talentosos, tentando assim que conseguissem resistir à tentação de irem trabalhar para universidades que pagam salários muito mais elevados, pois em Portugal um catedrático no 1º escalão recebe menos do que uma bolsa de pós-doutorado em certas universidades do Norte da Europa, pois ignorar esta realidade e persistir em regras anacrónicas e miserabilistas é perpetuar um círculo de mediocridade e de empobrecimento do nosso país.

Recordo também que, há quase um ano atrás, mais precisamente no dia 30 de Dezembro, recebi um email da FCT notificando-me que um projecto do qual fui investigador responsável, não tinha executado 524,56 euros, exigindo a devolução urgentíssima dessa pequena verba, sob pena da universidade do Minho ter de pagar a totalidade do valor do projecto. Compare-se esse comportamento contraproducente, que desincentiva os investigadores de tentarem poupar na gestão dos seus projectos, com aquilo que sucede na França, onde um cientista galardoado com o prémio Nobel, que visitou a universidade do Minho, revelou que naquele país, os investigadores tem total autonomia para poderem utilizar verbas de projectos que não foram executadas em despesas científicas que achem pertinentes. E compare-se isso com a autonomia que atinge níveis verdadeiramente audaciosos no caso da Agência Alemã que financia a inovação naquele país (Sprind), onde a vontade de cortar na burocracia vai ao ponto de dispensar as equipas que atingiram os objectos a que se propuseram de explicarem como gastaram o financiamento recebido "Successful teams are also not asked to offer any proof of how they spend their money. “The bureaucracy needs to be as minimal as possible,” said Costard" https://sciencebusiness.net/news/r-d-funding/inside-germanys-sprind-innovation-agency-anti-horizon-europe

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Univ. de Lisboa - Uma notícia sobre um 1º lugar que afinal é apenas o 8º lugar nacional


A U.Lisboa divulga no seu site que é hoje "a universidade mais empreendedora de Portugal", (vide notícia acessível no link supra) baseando essa afirmação no facto de aquela ter gerado mais de 1000 startups. Mas se levarmos em linha de conta que a maioria das startups não passam de iniciativas falhadas que desaparecem ao fim de poucos anos, pois não conseguem gerar receitas suficientes nem muito menos captar qualquer investimento, aquilo que realmente pode aferir da capacidade empreendedora de uma instituição é antes o valor médio do montante de investimento efectivamente captado pelas suas startups, que dessa forma demonstram uma capacidade bastante maior de transformar conhecimento em valor económico, revelando processos de incubação, mentoria e transferência de tecnologia mais robustos e eficientes.

Assim apresenta-se abaixo o rácio do maior investimento médio captado por startups, de 10 instituições de ensino superior, onde a ULisboa só consegue aparecer em 8º lugar, com um desempenho apenas ligeiramente melhor do que o Politécnico de Leiria. Na lista merece destaque pela positiva o Politécnico do Porto, cujo desempenho envergonha várias universidades, incluindo a própria universidade de Lisboa. Os rácios foram calculados utilizando os valores que recentemente foram apresentados aqui https://startupportugal.com/wp-content/uploads/2025/11/Portugals-Entrepreneurial-Universities-Ranking25.pdf

1º - U.Nova..............22 milhões de euros de investimento médio captado por cada startup
2º - U.Coimbra.........20
3º - Pol. Porto..........19
4º - ISCTE...............17
5º - U.Minho............14
6º - U.Porto..............12
7º - U.Católica.........12
8º - U.Lisboa...........11
9º - Pol. Leiria...........8
10º - U.Aveiro...........8

Talvez seja chegada a hora das universidades e politécnicos nacionais mais competitivos, copiarem o que se faz numa das melhores universidade europeias, que integra o pódio juntamente com a Univ.de Oxford e a Univ. de Cambridge, no ranking de produçáo das startups mais valiosas (vide relatório Deep Tech 2025), universidade essa que concede licenças sabáticas de 1 ano, aos seus professores e investigadores, que se queiram dedicar à criação de startups https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/04/sera-que-os-estudantes-de-engenharia-da.html  

PS - O contexto supra revela-se particularmente oportuno para evocar o artigo de título "Investimento em Ciência e Prosperidade", da Directora do novel e ambicioso centro de investigação GIMM, que conta com mais de 700 colaboradores, onde aquela afirmou que "a ciência é o melhor investimento que uma sociedade pode fazer" https://expresso.pt/opiniao/2025-11-06-investimento-em-ciencia-e-prosperidade-464085e6

Aditamento em 14 de Novembro - A Vice-Reitora da Universidade do Porto para o empreendedorismo, revelou ao semanário Expresso que naquela universidade há alguns professores que já criaram mais de uma dezena de empresas. E embora não tenha revelado o nome deles, acho muito provável que um desses professores seja o catedrático nada modesto que em Janeiro de 2024 mencionei aqui https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/01/catedratico-nada-modesto-classifica-de.html

terça-feira, 11 de novembro de 2025

The Decline of the Great American Research University

 

https://www.chronicle.com/article/the-decline-of-the-great-american-research-university

In an article published yesterday, Richard Holmes argues that American universities are in the midst of a long-term decline. While these institutions continue to celebrate their scientific achievements and global prestige, Holmes contends that they have failed to confront decades of eroding research quality. He condemns their dependence on standardized rankings and warns that this culture of self-congratulation masks a deeper crisis: the steady loss of Western academic dominance. Holmes further highlights the rapid ascent of Chinese universities, which are increasingly outperforming their Western counterparts in both research output and impact.

I strongly disagree, however, with his dismissal of the Trump-era assaults on academia as a marginal factor. Federal funding cuts, the politicization of curricula, and sustained attacks on academic freedom severely weakened the research ecosystem. Immigration restrictions and travel bans choked the influx of international talent—students and scholars who form the lifeblood of graduate education and innovation. The relentless vilification of “liberal” universities eroded public trust and state investment. Far from being incidental, these political and cultural hostilities amplified structural weaknesses, accelerating the decline in U.S. universities’ global competitiveness.

China’s scientific output has expanded at an unprecedented pace, yet a significant portion of its work remains low-impact and is cited mostly within the country. At the same time, the rise in retractions, “paper mills,” and ethics lapses has exposed serious, systemic problems with research integrity, raising questions about the credibility of some outputs. Compounding these challenges, career and funding systems that reward short-term metrics and publication counts incentivize safe, incremental projects over bold, transformative research, slowing the pace at which Chinese science can achieve groundbreaking, globally recognized innovation.

I agree that China has emerged as a formidable and increasingly assertive competitor in the global research landscape. However, this prominence owes relatively little to its intrinsic scientific competitiveness—as evidenced by its comparatively modest performance in Nobel Prizes, a crucial context that Holmes overlooks. He fails to consider the ratio of science Nobel Awards per million inhabitants between the U.S. and China—a figure in which China ranks below countries such as Argentina, Egypt, and Tunisia. Rather than reflecting the depth of domestic innovation, China’s rise in research stature is driven largely by its exceptional ability to attract top-tier Western scientists, including Nobel laureates, as discussed in a previous post titled “The Persistent Disruption Metric, Nobel Minds, and China’s Long Game” 

PS - Holmes seems to have missed Yasheng Huang’s 2023 book, The Rise and Fall of the EAST (MIT Sloan), which cuts to the heart of China’s rise—fueled by exams, autocracy, stability, and technology—while warning that these very forces could choke innovation, spark social unrest, and derail economic reforms. Chinese innovation is further threatened as young people favor government jobs over startups, while Soviet-era legacies in Chinese universities enforce rigid structures and traditional mindsets that stifle creativity and hinder entrepreneurial thinking https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/06/tech-titans-clash-america-vs-china-in.html

Update after 1 day — The highest foreign interest in this post comes from the USA (14%), Singapore (10%), and Germany (6%).

O jovem doutorado da Univ. de Aveiro que vale infinitamente mais do que o Ronaldo

 

Ainda sobre o post supra, que, ao que consta, terá irritado alguns conhecidos neofascistas — para quem o Ronaldo parece ser o pináculo da criação humana — convém repor a verdade e dar crédito a quem realmente o merece. Se utilizarmos como critério de valor social, nunca se ter sido condenado a uma pena de prisão, então há milhões de portugueses que valem muitíssimo mais do que o Ronaldo, digam lá esses neofascistas o que disserem.

Mas se colocarmos a fasquia bastante mais alta, então aquele jovem doutorado Português, natural da Guarda, cuja empresa criada há 10 anos, detentora de dezenas de patentes e avaliada em 4000 milhões de dólares, que dá emprego a mais de um milhar de pessoas, com salários médios mensais de 3400 euros e que paga bónus de 20% aos trabalhadores que optem por ir viver para o Interior de Portugal, empresa essa que é especialista na utilização da IA para tratamento de dores, tendo já ajudado mais de 600.000 pacientes por esse mundo fora, esse vale em termos sociais, infinitamente mais do que vale o Ronaldo

O CEO Virgílio Bento, não só ajudou a melhorar a saúde de centenas de milhares de pessoas, como também, e ao contrário da maioria dos empresários nacionais, que se limitam a pagar salários mínimos, proporcionou a centenas de pessoas empregos altamente qualificados — daqueles que, habitualmente, só se encontram nos países do Norte da Europa. Ajudou ainda a promover a inovação científica nacional e a inspirar uma geração de jovens cientistas. E fiel às suas origens, não se esqueceu de contribuir para o desenvolvimento económico do Interior de Portugal, que não é uma responsabilidade dos empresários, mas sim uma obrigação constitucional dos Governos (alínea b do nº 2 do Art. 66 da CRP), que, de forma oportunista, infame e velhaca, todos eles têm negligenciado.

PS - Há poucos dias o insigne e supracitado empresário anunciou que irá investir 250 milhões de euros em Portugal e contratar mais algumas centenas de colaboradores https://expresso.pt/economia/empresas/2025-11-03-sword-health-investe-250-milhoes-em-portugal-para-criar-plataforma-mundial-de-inteligencia-artificial-em-saude-cae08a78

domingo, 9 de novembro de 2025

Uma hipótese explicativa relacionada com o livro mais citado da Academia Portuguesa

No inicio do ano de 2023, o humilde dono deste blogue foi convidado para integrar o conselho editorial da revista científica Case Studies in Construction Materials, que é publicada pela editora Elsevier. A maioria dos membros do referido conselho pertence à China, aos EUA e ao Reino Unido, sendo o único conselheiro a representar o nosso país. 

As várias razões para esse convite só quem o fez as pode saber, mas talvez entre elas se inclua o facto de uma pesquisa na conhecida plataforma Scopus, mostrar que no Top 10 dos artigos mais citados dessa revista, que foram produzidos nos últimos 5 anos, a maioria deles pertencer a uma área, relativamente à qual eu sou o primeiro editor de um livro, que se tornou o mais citado dessa área a nível mundial e também o mais citado, de todas as áreas em Portugal, entre os muitos livros que foram produzidos ao longo da última década. https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/02/o-livro-mais-citado-de-portugal.html

sábado, 8 de novembro de 2025

Um Português com uma fortuna máxima mas com uma estatura moral mínima


"...que no currículo já tinha a desonrosa medalha da fuga ao fisco e de ter feito um acordo para evitar uma acusação de violação, conseguiu ainda a proeza de aceitar receber dinheiro sujo, para ajudar a lavar a imagem de um regime inominável, vide as criticas que na altura lhe foram feitas pela Amnistia Internacional e também as acusações de hipocrisia, que lhe foram feitas cá dentro, por um conhecido médico" https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/03/a-ligacao-entre-um-portugues-hipocrita.html

O trecho supra foi retirado de um post do passado mês de Março e elenca o passado pouco brilhante de um famoso artista do pontapé e da cabeçada. Mas como se esse currículo não fosse já suficientemente mau, o referido artista fez o impensável, tendo ontem sido noticia por conta de ter afirmado publicamente que admira um traste de nome Donald Trump https://sicnoticias.pt/especiais/cristiano-ronaldo/2025-11-07-video-os-elogios-de-ronaldo-a-trump-quero-conhece-lo-gosto-de-pessoas-assim-f87d98c2

Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar alguém que tem no currículo 91 acusações, incluindo de falsificação, de extorsão e de abuso sexual ? Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar alguém que está envolvido num escândalo de pedofilia ? Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar quem se recusa a cumprir uma ordem do tribunal, deixando que crianças americanas passem fome ? Que tipo de pessoa é que pode elogiar e admirar alguém, obcecado em perseguir imigrantes honestos, que ao contrário do famigerado Donal Trump, nunca cometeram qualquer crime? E que tipo de Português, de moral mínima, traindo princípios de solidariedade nacional, pode elogiar e admirar alguém que mandou deportar centenas dos seus próprios compatriotas, que viviam há dezenas de anos no país de Donald Trump, como por exemplo aquela Portuguesa que lá viveu ao longo de quase 60 anos ? https://www.rtp.pt/noticias/mundo/vivia-nos-eua-ha-57-anos-a-historia-de-uma-portuguesa-deportada_v1695582

Declaração de interesses - https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/ronaldo-versus-attenborough.html

PS - Em 2019 o supracitado artista de moral mínima foi condenado por um tribunal Espanhol a quase 2 anos de prisão por fraude fiscal e condenado também ao pagamento de uma multa de quase 20 milhões de euros. Infelizmente essa pesada condenação não foi considerada motivo suficiente para que lhe fosse retirada a condecoração que recebeu da Presidência da República, muito embora a Lei das Ordens Honoríficas Portuguesas, refira expressamente, que os condecorados devem manter uma conduta irrepreensível que não "atente contra valores éticos", e que não tenham sido condenados por cometerem crimes ! 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O sistema científico nacional está viciado em publicações e isso está a prejudicar as universidades nacionais e a ciência mundial


Como divulguei no post acessível no link supra, em termos de publicações indexadas na base Scopus por milhão de habitantes, em 2009 Portugal ultrapassou a Itália, em 2010 ultrapassou a França, e em 2012 ultrapassou a Alemanha. Logo o país cuja ciência ganhou dezenas de prémios Nobel enquanto Portugal só ganhou um único Nobel há mais de 70 anos. E porém não ficou por aí, em 2021 a vantagem de Portugal sobre a Alemanha subiu para 34% e entretanto essa superioridade alcançou em 2024 uns inacreditáveis 44%. 

Porém e em sentido inverso o número total de publicações indexadas produzidas por investigadores Alemães tem vindo a descer todos os anos desde 2021. E a razão para isso não será certamente falta de competência nem muito menos preguiça. Mais provavelmente estará ligada à denúncia feita por muitos cientistas que o excesso de publicações  a nível mundial está a prejudicar a ciência, vide por exemplo Hanson et al. (2024) ou também o artigo de Horta e Jung (2024)  que constatou não haver investigadores séniores em número suficiente para conseguirem rever tantas publicações, o que leva a que na maior parte das vezes os Editores tenham de convidar jovens investigadores inexperientes, com uma produção cientifica incipiente, que nem sequer chega a meia dúzia de publicações, para fazerem essas revisões. Aliás, se recuarmos ainda mais no tempo, em 2021, Chu & Evans, analisaram 90 milhões de publicações tendo concluído que o referido excesso publicativo é francamente prejudicial à ciência. E nesse mesmo ano um investigador brilhante, Vladen Koltun, titular de um Scopus h-index=87, defendeu até que os investigadores que publicassem em excesso fossem penalizados por isso.

E a supracitada inflação de publicações indexadas ajuda a explicar a queda, ano após ano, no ranking Shanghai por áreas científicas, de todas as universidades Portuguesas, porque só por manifesta ingenuidade científica se poderia esperar que um aumento anormal da quantidade das publicações não levaria inevitavelmente a uma diminuição da sua qualidade (leia-se impacto) e é também por isso que os Alemães optaram por reduzir o número total das suas publicações, apostando antes em conseguir aumentar a "qualidade" das mesmas, ao mesmo tempo que também assim mostram ao mundo a sua vontade de deixar de contribuir para a muito danosa inflação mundial de publicações.  

É claro que como os investigadores nacionais adaptam o seu desempenho aos incentivos institucionais, enquanto não houver mudanças na avaliação de desempenho, que reduzam o anormalmente elevado valor das publicações, e passem a valorizar actividades de revisão e também o impacto científico (o verdadeiro calcanhar de Aquiles da ciência nacional), irão continuar a bater tristes recordes de publicações, mesmo que isso prejudique a competitividade internacional das universidades Portuguesas e a própria ciência mundial. 

Ainda no que respeita ao impacto científico, é pouco rigoroso, pouco científico e até perverso, que nos regulamentos nacionais de avaliação de desempenho, o mesmo seja estimado, de forma indirecta, atrás dos quartis das revistas (leia-se através do seu factor de impacto), pois trata-se de uma opção que foi fortemente desaconselhada por muitos conhecidos investigadores, que denunciaram as manipulações sistemáticas de que o mesmo é alvo, como por exemplo o fizeram os catedráticos Larivière e Sugimoto (2019) ou o supracitado Vladen Koltun, ao invés de ser calculado de forma directa, seja através de citações ou através do h-index, aliás se de há vários anos a esta parte, se tornou prática corrente publicar em Diário da República, editais de concursos públicos para lugares de professores catedráticos, em várias universidades incluindo na UMinho, exigindo valores mínimos de h-index  isso significa que os mesmos já abriram o precedente legal para que a sua utilização se possa também estender aos regulamentos de avaliação de desempenho. 

PS - Curiosamente, há um tipo particular de publicações académicas em relação ao qual Portugal não tem sido capaz de evidenciar um desempenho acima da média: os livros. A pequena Universidade de Oxford consegue produzir, todos os anos, mais livros indexados do que todas as universidades e politécnicos portugueses juntos, públicos e privados.

domingo, 2 de novembro de 2025

Presidente da CITE - "O trabalho suga-nos! Suga-nos tudo. Está a sugar as nossas vidas."


As palavras que utilizei para título deste post foram retiradas de um interessante artigo publicado na revista VISÃO, que tem como autora, Carla Tavares, jurista e presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego. No mesmo artigo ela escreve também que "É impensável que, com todo o avanço tecnológico nos conformemos enquanto sociedade, em continuar a ter as mesmas oito horas diárias de trabalho, ou mais..."

Mas, se ao menos ela tivesse lido as crónicas no Expresso, do catedrático e Presidente da EEG da UMinho Luís Aguiar-Conraria — como a que foi publicada online no passado dia 9 de outubro, em que ele mencionou vários estudos sobre a IA que confirmaram aumentos brutais de produtividade — poderia ter sido mais explícita ao substituir a vaga expressão “avanço tecnológico” por “aumentos brutais de produtividade decorrentes da utilização da IA

Seja como for, o facto dos tais avanços tecnológicos permitirem actualmente a mais de um milhão de Portugueses poderem estar em teletrabalho, é algo que merecia um mínimo de reconhecimento pela autora do artigo, pois quanto mais não fosse e como divulgou no mesmo semanário Expresso um conhecido catedrático da LSE, a ciência mostra que nos casais que estão em teletrabalho a "fertilidade dispara". https://pachecotorgal.com/2025/01/20/alcancar-um-circulo-virtuoso-para-portugal-com-a-receita-tnn-que-um-catedratico-da-lse-nao-foi-capaz-de-enxergar/

PS - Infelizmente, existe algo ainda mais cruel do que um trabalho que suga tudo: é um trabalho que suga tudo e, ainda assim, não é suficiente para cobrir as despesas básicas.

sábado, 1 de novembro de 2025

The Rise of AI-Driven Manipulation and the Urgent Need to Recalibrate Ethics and Integrity as Core Academic Values

 

Nearly two years ago, I commented on an article published in The Economist (linked above) that explored the potential for artificial intelligence to interfere with electoral processes through fabricated videos of politicians. I reflected on how this emerging reality could profoundly transform the core mission of academia, shifting its emphasis from traditional priorities such as teaching and scholarly publications toward activities centered on assessment, curation, and mentoringJust yesterday, Politico reported that AI-driven deepfakes have now made a tangible impact on European elections. In Ireland, a manipulated video falsely depicted presidential candidate Catherine Connolly withdrawing from the race, while in the Netherlands, far-right politicians employed AI-generated images to tarnish and discredit their political opponents. https://www.politico.eu/article/elections-europe-ai-deepfakes-social-media/

Notably, two years ago, AI-generated Sora videos were purely hypothetical. What once existed only as a theoretical danger now moves openly in the world. The launch of Sora for ChatGPT Plus and Pro on December 9, 2024 — followed by the public release of its successor, Sora 2, on September 30, 2025 — did more than introduce a new AI tool; it unleashed a technology capable of reshaping reality itself. That shift is not incremental — it is tectonic. The availability of Sora 2 as a platform for generating deepfakes turns disinformation from a slow-burning threat into an immediate, scalable weapon. What were once abstruse academic warnings have metastasized into an urgent crisis: manipulated media now routinely corrodes public trust, warps political debate, and weaponizes appearance itself. These developments have remade the battlefield of truth, dramatically accelerating the risks of disinformation and political interference and forcing us to confront consequences once dismissed as hypothetical.

For academia this is an existential moment — an invitation to lead. Institutions must stop treating ethics as an afterthought and start treating it as infrastructure. Curricula, research priorities, and reward systems must be recalibrated toward detection, curation, mentoring, and public literacy. In the emerging era of synthetic media, ethics and integrity are no longer peripheral virtues — they are the currency by which scholars buy credibility, influence, and access to funding. Those who can reliably identify, contextualize, and counteract AI-driven deception will become the new gatekeepers of moral authority: custodians of a scholarly practice where intellectual rigor is meaningless unless paired with ethical accountability.

Update after 1 day — Foreign readers from Germany (30%), the USA (25%), and Singapore (7%) show the greatest interest in this post.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O Decreto-Lei socialista socializante e medíocre n.º 112/2021, de 14 de dezembro que viola a Constituição de forma grosseira

Todos concursos na função pública estão subordinados ao princípio do mérito, consagrado na Constituição da República Portuguesa (CRP), porém, a aprovação, pelo Governo socialista de António Costa, do Decreto-Lei n.º 112/2021, de 14 de dezembro, veio isentar todas as instituições de ensino superior públicas dessa exigência fundamental. 

Por força desse decreto-lei, milhares de concursos têm vindo a ser abertos no ensino superior, aos quais apenas podem concorrer candidatos das próprias instituições que os promovem e é especialmente grave que o princípio do mérito esteja, desde então, a ser alvo de uma exceção precisamente nas instituições onde as exigências de mérito deveriam ser maiores, exactamente como sucede nas universidades do países do primeiro mundo. 

Recorde-se que, antes da aprovação desse decreto-lei, os concursos para o ensino superior tinham natureza internacional, admitindo candidatos de outros países. Desde essa altura, porém, deixaram de admitir sequer candidatos nacionais, aceitando apenas “candidatos da casa”. Esta situação aberrante um verdadeiro hino à mediocridade  e manifestamente ilegal porque inconstitucional, é particularmente grave num país cujas universidades apresentam níveis de endogamia superiores a 70%, enquanto as universidades mais competitivas do mundo registam percentagens inferiores a 10%.

Depois não pode constituir admiração que as universidades Portuguesas todos os anos se vão afundando no mais prestigiado ranking mundial, o ranking Shanghai, o único que contabiliza prémios Nobel, sendo que algumas das melhores universidades Portuguesas, aparecem nesse ranking abaixo de universidades de países do terceiro mundo. 

Recordo que vários catedráticos tiveram a integridade de criticar esses concursos, que apelidaram de concursos aconchegados e que um ex-Reitor foi mais longe e disse até que esses concursos reforçam o compadrio nas universidades Portuguesas. 

PS - Importa também questionar o que sucederá se um estudante de uma universidade solicitar informação sobre quais os professores recrutados através de concursos de âmbito internacional e quais aqueles que foram selecionados nos supracitados concursos aconchegados, com o intuito de escolher um orientador pertencente ao primeiro grupo. Poderá a universidade recusar-lhe o acesso a essa informação?

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Mais um concurso que anulei em tribunal, desta vez na universidade do Porto

À semelhança de outros concursos académicos dos quais consegui obter anulação judicial, fui ontem informado que uma acção de impugnação que intentei relativamente a um concurso para uma vaga de Professor Associado no departamento de engenharia civil da Universidade do Porto conseguiu levar à anulação do mesmo.  A bizarra decisão do júri desse concurso, cujos juízes também não conseguiram compreender, é evidente na argumentação que aduzi em sede de audiência prévia e da qual reproduzo um breve extrato. 

Reproduzo também no final do post o nome dos jurados, destacando com louvor dois deles — a catedrática Maria de Lurdes da Costa Lopes e o investigador-coordenador do LNEC, Arlindo Freitas Gonçalves — pela dignidade e integridade que demonstraram ao reconhecer o óbvio: que a produção e o impacto científico do currículo do candidato que venceu o concurso (sabe-se agora que em violação da lei) eram muitíssimo inferiores aos meus. 

E, por caridade cristã, abstenho-me de nomear os jurados cuja produção e impacto científicos eram, igualmente inferiores aos meus — embora o tenha feito, em sede de audiência prévia, quando escrevi: "...algo incompreensível, pois o trabalho científico do referido jurado não conseguiu receber ao longo de 34 anos...tantas citações quantas recebeu o trabalho do ora requerente em apenas 7 anos".

...Desde logo não se percebem (de todo) as pontuações do jurado nº 2 (Jorge de Brito) por exceder 100% nem tão pouco as dos jurados 1 (Fernando Branco), 4 (Fernando Henriques) e 6 (Vasco Freitas) e por não terem atribuído neste critério 100% a nenhum dos 9 candidatos. Quase parecendo que a pontuação atribuída o foi em termos absolutos e não relativos. Contudo somente atribuindo a pontuação de 100 ao candidato melhor classificado em cada critério (como o fizeram os jurados 3, 5 e 7 (Arlindo Gonçalves, Álvaro Cunha e Maria de Lurdes Costa)) e graduando a produção dos restantes candidatos se podem relativizar as pontuações entre os diferentes candidatos. Torna-se assim necessário perceber a pontuação relativa entre o ora requerente e o candidato que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição, a qual se apresenta na tabela 2.

Tabela 2- Vantagem percentual relativa entre a pontuação do ora requerente e do candidato que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição

Jurado 1

IST

Jurado 2

IST

Jurado 3

LNEC

Jurado 4

UNL

Jurado 5

U.Porto

Jurado 6

U.Porto

Jurado 7

U.Porto

0%

160%%

238%

142%

154%

133%

286%


Produção de artigos em revista SCI - vantagem de aprox. 2.350% entre a produção do ora requerente e do candidato que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição. 

Rácio de artigos em revista SCI/ano (contados a partir do ano imediatamente a seguir à conclusão do Doutoramento) - vantagem de aprox. 3.400% entre a produção do ora requerente e do candidato que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição. 

Factor de impacto acumulado – vantagem de aprox. 13.000% entre a produção do ora requerente e do candidato que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição. 

Citações de artigos em revista ISI – vantagem de aprox. 3.300% entre a produção do ora requerente e do candidata que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição.

O candidato que o projecto de Lista Unitária de Ordenação Final de candidatos coloca na 1ª posição não cumpria sequer (à data da candidatura) o primeiro critério mínimo de qualidade científica para Orientar teses de Doutoramento na área da engenharia civil financiáveis pela FCT.

Composição do Júri:
Catedrático Fernando António Baptista Branco............Universidade de Lisboa
Catedrático Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito..........Universidade de Lisboa
Catedrático Fernando Manuel Anjos Henriques...........Universidade Nova de Lisboa
Investigador-Coordenador Arlindo Freitas Gonçalves..LNEC
Catedrático Vasco Manuel Peixoto Araújo de Freitas...Universidade do Porto
Catedrático Álvaro Matos Ferreira da Cunha...............Universidade do Porto
Catedrática Maria de Lurdes da Costa Lopes..............Universidade do Porto

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

The Ultra-Rich Are Moving Beyond Luxury: Which Nations Stand to Gain Most?

https://www.economist.com/finance-and-economics/2025/10/12/why-the-ultra-rich-are-giving-up-on-luxury-assets

A recent article in The Economist (linked above) highlights a notable shift in the consumption patterns of the ultra-rich. Traditional luxury assets—such as sports cars, private jets, boats, and sprawling mansions—are losing their appeal as symbols of status because their ubiquity and replicability have diluted their exclusivity. In response, the global elite are increasingly allocating wealth toward highly curated, experiential offerings that are inherently limited and often non-transferable. These include access to elite events, bespoke travel and hospitality, and other immersive experiences that combine social prestige with scarcity. Recognizing the potential economic implications of this shift, I engaged GPT-5 to conduct a foresight analysis identifying the countries most likely to benefit from evolving ultra-wealthy consumption patterns. The excerpt below presents the opening segment of GPT’s analysis, covering the first three countries (Italy, France and Portugal) in the Top 10 ranking, as elaborated in the full response.

Equally noteworthy in the realm of the ultra-rich is the importance of acknowledging other forms of immersive experiences that carry substantial social prestige—among them, the act of paying taxes. In this context, it is particularly commendable to highlight the work of economist Gabriel Zucman, whose most recent book, Billionaires Don’t Pay Income Tax—and We’re Going to Stop It mercilessly exposes the parasitic behavior of the ultra-rich, who rig the system to dodge their fair share while the rest of society bears the burden. He lays bare the staggering scale of tax avoidance, dissects the loopholes they exploit, and proposes a simple but radical fix—a modest annual wealth tax to claw back stolen fairness. More than a policy prescription, Zucman’s work is a searing indictment of economic privilege, framing tax compliance as a non-negotiable civic duty and a measure of basic human decency in a society hollowed out by the greed of its wealthiest members, whose effective tax rate hovers around 0.3% of their wealth. https://www.amazon.fr/milliardaires-paient-dimp%C3%B4t-revenu-allons-ebook/dp/B0FT3526SD 

GPT-5 foresight analysis on Italy, France, and Portugal, the top three countries most likely to benefit from recent shifts in the consumption patterns of the ultra-rich:

Italy — The Rebirth of Sensual Culture

Italy stands at the epicenter of this experiential turn. Its fusion of high culture, gastronomy, aesthetic refinement, and emotional heritage offers what no synthetic luxury brand can replicate: continuity of meaning. UHNW individuals are increasingly channeling wealth into private villas, vineyard estates, and immersive culinary sanctuaries, where the allure lies in authorship—crafting and living one’s own Italian narrative. Regions such as Tuscany, the Amalfi Coast, and Lake Como exemplify this evolution: the grandeur of marble palazzi gives way to the intimacy of experiential estates that promise restoration, slowness, and discretion. Parallel markets are flourishing in art-restoration tourism, bespoke culinary academies, and heritage craftsmanship residencies, signaling a shift from consumption to cultural stewardship. Italy thus transforms luxury into a lived continuity between art, land, and identity.

France — Luxury as a Cultural Performance

France retains its position as the global benchmark for luxury as performance—an aesthetic, ritualized experience rather than a product. Nowhere else fuses Michelin gastronomy, couture ateliers, and curated art events (such as Paris+ par Art Basel) into a seamless continuum of taste and distinction. The Paris–Provence–Bordeaux axis represents a triad of experiential sophistication: Paris as the stage of symbolic capital, Provence as the sanctuary of sensorial retreat, and Bordeaux as the realm of oenological mastery. Meanwhile, the French Alps (Courchevel, Chamonix, Megève) are rebranding from ostentation to stealth wealth: alpine privacy, unbranded opulence, and the social discretion now prized by the global elite. France’s fastest-growing segment is not retail but invitation-only cultural immersion—events, ateliers, and residencies that render luxury invisible yet inimitable.

Portugal — The Discreet Vanguard of Sustainable Luxury

Portugal emerges as a quiet powerhouse in this experiential economy, offering a blend of climate stability, safety, affordability, and authenticity. For the ultra-wealthy seeking post-bling serenity, Portugal provides what global metropolises cannot: intimacy without isolationThe Lisbon–Comporta–Alentejo corridor is becoming a laboratory for experiential minimalism—a style that privileges substance over spectacle. Foreign capital increasingly flows into sustainable estates, creative residencies, and wellness retreats, where the emphasis is on regeneration, not display. The country’s discreet identity—cultured yet unpretentious—positions it as the ideal destination for the new aristocracy of restraint. Its emerging niche is clear: “quiet luxury” fused with environmental consciousness, a lifestyle defined not by accumulation but by alignment with place and purpose.

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A comprovação de um novo recorde mundial



Relativamente aos vários recordes mundiais, listados no post acessível no link supra, posso agora acrescentar mais um, o de investigador mais citado, na área dos materiais activados alcalinamente e ou geopoliméricos, comprovado atráves de uma pesquisa na Scopus, a maior base de literatura cientifica indexada a nível mundial, relativamente ao rácio K-index/ano, que nos últimos 5 anos cresceu de forma muito acentuada mais de 150%.   

PS -  O K-index tem a vantagem de não ser influenciado por publicações que receberam poucas citações, o que significa, que como afirmou o catedrático Carlos Fiolhais em 2018, consegue medir "de modo mais perfeito o impacto na comunidade científica". 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

O desespero e as inverdades vergonhosas do Reitor da Universidade de Coimbra

 

Na primeira semana do passado mês de Agosto, o Reitor Amílcar Falcão, da Universidade de Coimbra, foi autor de um pouco inspirado artigo no jornal Público, onde tentou sem sucesso defender o indefensável, as virtudes da endogamia académica. Na altura comentei esse artigo no post de titulo "Nas asas da hipocrisia: O pouco magnífico Falcão no ninho quente da endogamia" https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2025/08/nas-asas-da-hipocrisia-o-pouco.html

Só por desespero se pode compreender que o mesmo Reitor Falcão venha hoje novamente, com os mesmos requentados argumentos, queixar-se da legislação do Governo, a qual recorde-se, pretende combater o grave problema da endogamia académica, embora de forma muito suave, inibindo durante apenas três anos, as unidades orgânicas com as mais elevadas percentagens de endogamia (acima de 60%) de contratarem os seus doutorados. 

Afirma o Reitor Falcão que a solução mágica passa pela formulação de editais magníficos escritos por anjos, que jura ele impedirão toda e qualquer manipulação concursal, fazendo assim por esquecer, a grave denúncia feita por um conhecido catedrático e também aquilo que uma conhecida investigadora-coordenadora, doutorada pela universidade de Oxford, denunciou no Expresso, que na maioria dos concursos académicos em Portugal vigora o princípio, "hoje votas no candidato que me interessa a mim e amanhã eu voto no candidato que te interessa a ti".

A parte mais lamentável do artigo do Reitor da universidade de Coimbra, é quando aquele afirma sem qualquer prova, que a legislação já aprovada em Conselho de Ministros e que agora irá ser debatida na Assembleia da República, irá prejudicar todas as universidades, excepto aquelas localizadas em Lisboa. Trata-se de uma inverdade absolutamente descarada, que sem dúvida envergonha todos os catedráticos da universidade de Coimbra. Excepto, claro, aqueles a quem a endogamia académica tem dado muito jeito. 

PS - Em 2017 concorri a uma vaga de professor catedrático na universidade Sueca de Uppsala. Naquela famosa universidade (que integra o Top 100 do ranking Shanghai) a selecção dos candidatos que passam à fase final é feita por catedráticos de universidades de outros países, vide relatório de 22 páginas acessível no link https://www.docdroid.net/ONpHyGk/review-by-aalto-university-expert-pdf E a única razão porque as universidades Portuguesas não copiam essa prática é porque isso levaria a que candidatos "da casa", com cunhas (é o próprio Reitor Falcão no seu artigo, que admite que elas existem), não conseguissem chegar à fase final. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

The Paradox of Scientific Non-Existence: Silent Shadows in the Halls of Knowledge

 

The well-known philosophical question, “If a tree falls in a forest and no one is around to hear it, does it make a sound?”, is commonly answered by asserting that the impact of its fall generates sound waves, which—if an observer endowed with auditory perception were present—would be perceived as noise. Yet, in the absence of such an observer, there are only sound vibrations, devoid of conscious interpretation.

By analogy, a scientist who produces a study that goes unnoticed by the scientific community resembles the tree that falls unheard in the forest. From an empirical standpoint, the study undeniably exists: the methodology was implemented, and the results were documented—just as the tree produced sound waves. However, from an epistemic or perceptual perspective, the study functions as if it never took place, since no one engaged with or acknowledged it. Its impact, therefore, is null. In this sense, it is worth recalling the assertion of the physicist Carlo Rovelli that scientists who make no impact are not merely invisible; they are, in a profound ontological sense, non-existent https://pachecotorgal.com/2022/06/08/interactions-as-a-paramount-existential-principle-and-the-scientists-who-do-not-exist/

The phenomenon of invisible—or scientifically non-existent—researchers constitutes not merely an inefficiency but a profound distortion of the scientific enterprise. The funding, time, and institutional capital expended on work that goes unnoticed or unacknowledged produce virtually no intellectual return, while simultaneously depriving other, more productive researchers of the means to advance knowledge. This misallocation corrodes the very foundations of merit-based science, rewarding existence over impact. Even more troubling, empirical evidence indicates that these “invisible” scientists exert a persistently harmful influence on the careers of young scientists, distorting mentorship structures, and perpetuating cycles of mediocrity that undermine the collective progress of science itself. https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/08/warning-to-young-researchers-hidden.html

Update after 2 days — Foreign readers from Singapore (13%), the USA (9%), Hong Kong (6%), and Germany (4%) show the greatest interest in this post.

domingo, 19 de outubro de 2025

Os professores do Ensino Superior Politécnico que merecem um aumento salarial entre 180 e 450 euros por mês



Merece reconhecimento e público elogio que haja algumas dezenas de professores do Ensino Politécnico, que aparecem listados no ranking mais prestigiado de cientistas a nível mundial (Elsevier-Stanford), ainda mais pelo facto de alguns deles estarem localizados em regiões economicamente desfavorecidas, como é o caso do Politécnico da Guarda que conseguiu a notável proeza de ter logo cinco professores no mesmo  https://politecnicoguarda.pt/cinco-investigadores-do-politecnico-da-guarda-entre-os-2-mais-citados-do-mundo/ 

Aproveito aliás para relembrar que o professor da UBI melhor classificado nesse ranking (incluído no subgrupo Top 0.5%), foi "roubado" aquela universidade pela Universidade do Porto, onde agora trabalha como catedrático https://pachecotorgal.com/2025/09/25/a-nova-proeza-da-universidade-acelerada-por-esteroides/   resta por isso saber se os referidos Institutos Politécnicos, serão capazes de reter esses cientistas altamente citados ou se eles preferirão concorrer para universidades onde terão à espera melhores condições de trabalho e ainda um salário superior. No mínimo dos mínimos, esses professores são merecedores de um aumento salarial, de 180 euros/mês, que os coloque ao mesmo nível dos professores universitários, por conta de terem conseguido alcançar um desempenho extraordinário, que muitos professores catedráticos de universidades públicas não conseguiram replicar.

Aliás, tendo em conta que é muito mais fácil fazer a Agregação do que conseguir aparecer neste ranking (há até quem, pasme-se, tenha conseguido obter a Agregação sem ter recebido uma única citação, ou sequer mesmo um único artigo publicado numa revista internacional decente), faria todo o sentido que o complemento salarial de 450 euros/mês, que é pago a quem obtém a Agregação devia também ser pago aqueles que constam do ranking Stanford-Elsevier, e cuja obra científica foi reconhecida por um elevado número de investigadores estrangeiros, tendo por isso muito mais mérito do que a simples aprovação em provas de Agregação com jurados caseiros (e "amigos", catedrático Vital Moreira dixit). 

sábado, 18 de outubro de 2025

O paradoxo (e os danosos malefícios) da invisibilidade e da inexistência científica

 

A pergunta “Se uma árvore cai numa floresta onde não há ninguém para ouvir, ela faz barulho?” costuma ter como resposta clássica que o impacto da sua queda gera vibrações sonoras, que, caso houvesse alguém presente com a necessária capacidade auditiva, seriam percebidas como som. Contudo o barulho só existe na presença de um observador; na ausência deste, existem apenas ondas sonoras, desprovidas de percepção consciente.

De forma análoga, um cientista que faz um estudo que é ignorado pela comunidade científica assemelha-se a uma árvore que cai no meio da floresta. Do ponto de vista factual, o estudo existe: a metodologia foi aplicada e os resultados foram registados — tal como a árvore também produziu ondas sonoras. Porém no plano da percepção, o estudo comporta-se como se não tivesse ocorrido: ninguém demonstrou qualquer interesse por ele. O seu impacto foi por isso nulo. E neste contexto é importante recordar que os cientistas que não causam impacto não são nesse contexto apenas invisíveis, são desprovidos de existência, pelo menos a fazer fé nas declarações do conhecido cientista Carlo Rovelli https://pachecotorgal.com/2022/06/08/interactions-as-a-paramount-existential-principle-and-the-scientists-who-do-not-exist/

O problema de haver cientistas invisíveis ou inexistentes é em primeiro lugar um problema de desperdício de recursos, pois os recursos consumidos por aqueles, sem qualquer retorno digno desse nome, são desviados de outros cientistas que os poderiam valorizar. Mas muito mais grave do que isso, a ciência já demonstrou, que os referidos cientistas (invisíveis e inexistentes) prejudicam de forma irreversível a carreira de jovens cientistas  https://19-pacheco-torgal-19.blogspot.com/2024/08/o-melhor-conselho-que-se-pode-dar-um.html

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Scientific Publishing Without Gatekeeping: Radical Reforms in Academic Publishing


In 2023, eLife introduced a “publish, then review” model, fundamentally transforming its editorial and peer review process. This innovative system replaces the traditional gatekeeping approach, in which manuscripts were either accepted or rejected prior to publication. Under the new model, submissions that pass an initial editorial triage are published directly as preprints and subsequently subjected to open, public peer review. 

A recent study conducted by three German researchers examined the implications of this reform for eLife’s editorial outcomes. Their analysis revealed only minimal differences between manuscripts reviewed under the traditional system and those processed under the new “publish, then review” model. Nonetheless, one of their recommendations was to enhance the robustness of the review process by increasing the number of reviewers per manuscript—from the current average of 2.7 to approximately three or four. https://link.springer.com/article/10.1007/s11192-025-05422-y#Sec15

However, this proposal raises important concerns. The global peer review system is under significant strain, driven by structural challenges inherent to academia itself. Chief among these are widespread reviewer fatigue—caused by the growing volume of manuscript submissions—and the persistent undervaluation of peer review as a meaningful scholarly contribution. (Fox et al., 2017; Ellwanger et al., 2020; Severin & Chataway, 2021; Horta & Jung, 2024; Beecher & Wang, 2025). Expanding the number of required reviewers per paper, without addressing these underlying structural problems, could exacerbate the existing shortage.

One potential remedy, as proposed in an article published by Times Higher Education, is to introduce a more radical and accountability-based approach: journals could adopt a policy of automatically rejecting submissions from authors who consistently publish substantially more papers than the number of peer reviews they contribute. Such a measure would help realign incentives, fostering a more equitable distribution of the reviewing burden while reinforcing peer review as a collective academic responsibility. https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/a-radical-solution-to-solve-crisis-in.html

Declaration of Competing Interests — My reviewing activity averages about 90 papers per year, a volume confirmed by Web of Science reviewer records.

Update after 3 days — Foreign readers from Singapore (39%), Hong Kong (23%), and the US (2%) show the greatest interest in this post.